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Doidimais Corporation
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sábado, outubro 30, 2004
 

QUANDO O RATO SAI, OS QUEIJOS FAZEM A FESTA

Tenho um amigo que é o rei do pop. Ele teve uma hilária carta publicada na Superinteressante que agora elevou-se ao patamar dos patamares da cultura pop: virou forward de e-mail. Sua brilhante idéia de dizer à revista que usou uma página dela para fumar maconha está agora percorrendo o ciberespaço como spam. Se outra pessoa se der ao trabalho de escanear algo que você fez que foi publicado numa revista de circulação nacional - e ainda por cima passar isso por e-mail - e, mais que isso, alguns receptores passam adiante mais uma vez - você acabou de criar algo bem pop.

Como se não bastasse, ele é pago para escrever numa revista de circulação nacional (a Dragão Brasil), e é um dos fundadores de uma das coisas mais engraçadas que li nos últimos tempos: a OverCrazy Foundation, paródia do DOIDIMAIS CORPORATION. A proposta é parodiar os posts mais recentes deste blog. O link é

www.overcrazyfoundation.blogspot.com

Bom divertimento.

(Resta saber se eles vão acompanhar o ritmo e sempre ter uma paródia do post mais recente. Embora o DOIDIMAIS CORPORATION dificilmente tenha mais de dois posts por semana, ele também nunca passa mais de uma semana sem posts novos).

***

Frei Beto, Emir Sader, Bernardo Kucinski e Leonardo Boff nunca são chamados de "arrogantes", por mais que expressem certeza em suas dissertações. Diogo Mainardi e Olavo de Carvalho, por outro lado, esses sim são arrogantes. E essa qualificação é fundamentada no fato de que eles têm certeza demais de suas convicções.

Ou seja, adota-se um padrão duplo: se concordo com autor, ele é razoável; se discordo, é arrogante. E o pior é que quem me achar arrogante ao afirmar esta última frase fatalmente discorda.

Sei do que falo porque vivo isto na pele. Muitas pessoas já me chamaram de arrogante, e justificaram isso dizendo que falo com um ar excessivo de certeza.

Não somente isto entra em contradição com a minha idéia do Tantos & Quantos segundo a qual todos pensam estarem certos¹ - esta crítica vem das mesmas pessoas que nunca chamariam Boff, Sader, Kucinski e Beto de arrogantes, não veêm problemas em mitificar Guevara, e estão convencidas de que "não existe verdade absoluta" - sem perceber que essa é uma idéia absoluta.

O que apenas me leva a lembrar do sem-número de afirmações que geram subprodutos no mínimo intrigantes ao serem aplicadas a si mesmas, tais como

"Não há verdade absoluta."

"O dogmatismo é ruim."

"Toda regra tem exceção."

"Toda pessoa tem preconceito."

A primeira afirmativa é uma idéia absoluta, completamente certa sobre a inexistência de verdades - ergo, contraditória.

A segunda afirmativa é uma radical posição contra o dogmatismo da qual o enunciador não arrasta pé. Trata-se, portanto, de uma afirmação dogmática contra o dogmatismo.

A terceira afirmativa não é, a princípio, uma contradição em termos. Trata-se de uma regra - que pode, portanto, ter exceção. Tal fato não demole a frase, pois a exceção da regra pode ser justamente a regra. Por outro lado, a regra revela-se falsa com a simples constatação de que ela não leva em conta² regras gramaticas e matemáticas. Todos os números naturais cuja soma de algarismos resulte num número divisível por nove serão divisíveis por três, sem exceções. E todas as proparoxítonas são acentuadas. A menos, claro, que o imbecil não saiba escrever direito.

A quarta afirmativa também não é uma contradição em termos. Ela apenas consolida e fortalece o preconceito de quem a enuncia - anuciando seu preconceito sobre todas as pessoas do mundo.

***

Como qualquer pessoa normal, não fazia idéia do que queria fazer da vida. Somente a uns poucos anormais é concedida a paixão irrefreável por uma determinada profissão.

***

Aquelas criaturas cujos corpos eram nada além de pés estavam seriamente ameaçadas.

Precisavam garantir suas meias de sobreviência.

***

"Afe" e "tsc", discretos na forma, podem ser escandalosamente negativos.

Existem poucas coisas melhores para transmitir antipatia.

***

Existe coisa mais perigosa do que um jovem sozinho em casa durante o domingo inteiro... incluindo a manhã de segunda?

¹ Que é uma idéia boa em si, e não boa por ser minha. Aliás, de certa forma nem minha é mais, porque a entreguei ao mundo e não cobro direitos autorais por ela.
² Fui prolixo. Poderia ter simplesmente escrito: "Por outro lado, a regra revela-se falsa simplesmente porque não leva em conta..."
 

Peixes:
sábado, outubro 23, 2004
 

AS PROSTITUTAS CIBERNÉTICAS

A fumaça saindo do cano fumegante da espingarda do fazendeiro é a única coisa que se mexe no cenário. Segurando com firmeza a arma, franzindo todo o rosto com raiva, apontava-a para o homem ferido e assustado no chão.

- Você não pode fazer isso - disse ele. - Eu tenho as costas quentes!

- Ah, mas eu vou deixar ainda mais quentes - disse o fazendeiro. - Enchendo elas de chumbo, disgramado!

O homem berra. Com um único braço, o fazendeiro o agarra e o vira de costas. Então, se afasta e descarrega um estrondoso disparo. BLAM !

A tela fica toda preta. Começa a tocar uma animada música de videogame. Num letreiro cheio de movimentos, aparece:

AS PROSTITUTAS CIBERNÉTICAS

***

Para quem não entrou ainda no clima, peço para fazerem o download da música-tema deste post (que é a música de abertura da idéia de filme acima). O download - legal, gratuito e rápido - pode ser feito em

ocremix.org/songs/Mega_Man_X_BrainsickMetal_OC_ReMix.mp3

Para uma música igualmente futurista e agitada, mas que caberia melhor nos créditos finais - e ainda totalmente adequada à história acima - ver

ocremix.org/songs/Chrono_Trigger_
WhenAllHopeHasFaded_OC_ReMix.mp3

(link cortado por motivos de espaço)

A música acima também é um tanto mais "boate", diria eu.

***

Vivia ele numa incrível universidade, na qual conviviam seres de todas as espécies e raças. Inquirindo sobre os hábitos de leitura das espécies mais raras da fantástica fauna acadêmica, perguntou:

- E os grifos? Grifam?

***

Eram os Jedi Capitalistas, da Santa Ordem do Consumismo. Durante uma perseguição, Anakin deixou cair sua carteira. Finda a seqüência de ação, seu mestre Obi-Wan a trouxe e pressionou-a junto ao peito do aprendiz, dizendo:

- This wallet is your life.

***

Têm um boa forma de informar quem não sabe sem aporrinhar quem já sabe. É escrever frases no modelo:

" O X, como qualquer outro Y..."

Desta maneira, quem já sabe que o X é um Y não se sente forçosamente educado por uma frase paternalista. Quem ainda não sabe aprende do mesmo jeito, sem necessidade de se dizer coisas excessivamente didatizantes como "Todos os X são Y".

Exemplos:

" As enzimas, como todas as proteínas..."

" Watson, como todos os autores da Escola Britânica..."

" O tungstênio, como qualquer outro metal..."

" O Zimbábue, por estar localizado no Sul da África..."

Et cetera.

***

Alguns termos de RPGs clarificam surpreendemente certas coisas em Ciências Sociais. Da mesma forma, alguns termos de Ciências Sociais clarificam surpreendentemente certas coisas que queremos dizer no dia-a-dia.

NPC, sombra do futuro, dano, Pontos de Vida, payoffs, estratégia max/mín, estrutura do sistema, atores, equilíbrio de poder, random, salto indutivo, ganhos relativos e absolutos, Carisma, Destreza, feitiços, Charm Person... ferramentas utilíssimas para resumir em uma ou pouquíssimas palavras algo que pessoas que não os conhecem precisam de um montão de palavras para explicar.

***

Anote em sua agenda qualquer coisa de especial que tenha acontecido no dia. Faça isso com a agenda do ano seguinte, reescrevendo nela as ocasiões especiais do ano anterior - como aniversários desses momentos. Repita a operação ano após ano.

Até o dia em que todos os dias do ano forem aniversários de ocasiões inesquecíveis.

***

A prova de que você está apaixonado: assistindo TV em casa, sozinho, pensa que - se ela estivesse lá - mudaria de canal por ela.

***

Esta frase é pra mó d´eu usar num discurso de simulação de organizações internacionais:

" History repeats itself, but if we keep repeating the same old solutions, history will keep repeating itself".
 

Peixes:
domingo, outubro 17, 2004
 

A BATALHA FINAL

Esquerda e Direita, Direita e Esquerda, lutando para todo o eterno sempre uma com a outra, são inimigas irreconciliáveis, ideologias diametralmente opostas, totalmente convencidas de suas próprias virtudes e dos defeitos do outro lado, irremediavelmente defendendo as suas idéias como superiores e alertando os perigos em se seguir a adversária.

Isto tudo parece muito óbvio. Mas não é. O brasileiro médio - mesmo o brasileiro universitário médio - não faz a mínima idéia disto.

O brasileiro médio inadvertidamente identifica a Esquerda como crítica, ao passo de que a Direita é conservadora. Uma bobagem sem tamanho.

Não há absolutamente nenhuma relação entre querer manter ou alterar a política e pertencer a um dos lados. Nos países socialistas, os esquerdistas são retrógrados, conservadores, conformistas, autoritários e apáticos - e os direitistas é que são os revolucionários, os críticos, os que querem mudança, os que enxergam problemas, os que não se conformam.

Este esclarecimento muito simples escapa à mente da imensa maioria dos brasileiros, que insistem em ligar a característica "conservadora" ao rótulo de direitista, quando na verdade estes serão, muitas vezes, muito mais dispostos à crítica e à mudança do que os guevaristas. Num ambiente completamente hostil ao debate e à divergência como é o cenário universitário brasileiro, os direitistas é que são o pessoal do contra, o pessoal que discorda.

Outra coisa que escapa completamente à cabeça da maioria do pessoal é que a Direita é tão perfeccionista e infalsificável quanto a Esquerda. O brasileiro médio acha perfeitamente normal dizer que o socialismo soviético, cubano, chinês ou norte-coreano não soube seguir exatamente o que Marx ditava, e por isso falhou. Ele acha natural e muito inteligente falar que o socialismo real não é o "verdadeiro" socialismo, e, quando este vier, aí sim haverá uma sociedade com "justiça social" e um monte de outras coisas boas. Com a mesma facilidade, ele acredita que Hitler e Mussolini eram de Direita - fato consolidado até mesmo pela raça jornalista que ele diz ser de Direita (ver a página 121 da revista Veja de 13 de outubro de 2004, onde se diz que a Alemanha nazista e a Itália fascista eram "regimes autoritários de direita").

O brasileiro médio não sabe que os direitistas têm a mais plena convicção de que Hitler e Mussolini eram de esquerda. Eles não hesitam em dizer que Hitler era do Partido Nacional-SOCIALISTA, e de que ambos os líderes pregavam o Estado forte, grande e onipresente - inclusive com medidas como defender a extinção da Bolsa de Valores, fazer a centralização da indústria, criar gigantescos sistemas de previdência (Mussolini), ou leis estritas contra o porte de armas, aumentar o controle estatal sobre empresas, defender direitos dos animais ou eliminar as diferenças de classe (Hitler) - idéias totalmente simpáticas a um sem-número de militantes guevaristas.

O brasileiro médio também não percebe que um direitista nunca chamaria Hitler e Mussolini de direitistas, e, se a raça jornalista o faz com tanta satisfação e sem medo, é porque de Direita é que ela não é.

Mas essa confusão não é à toa:

O brasileiro médio acha lindo a China socialista estar crescendo espetacularmente, sem saber que as medidas que ela tomou para enriquecer claramente se afastam do ideário de Esquerda. Ele também acha muito bonitinha a política social igualitária dos chineses, mesmo que o IDH da China esteja mais de trinta posições abaixo do Brasil, país que como sabemos é super-desenvolvido.

O brasileiro médio acha perfeitamente razoável que Diogo Mainardi e Olavo de Carvalho chamem a atenção por suas tendências direitistas, ao mesmo tempo em que acredita que a raça jornalista é onipresentemente de Direita. Ele não percebe a evidente contradição aqui: se duas pessoas se destacam do unilateralismo justamente por seu direitismo, então a grande massa da raça jornalista é de quê?

O brasileiro defende que o socialismo acabou e que o discurso hoje é puramente neoliberal. Ele nunca viu um panfleto do PSTU e do PCO e nunca ouviu falar nesses partidos.

O universitário brasileiro se acha muito crítico, mesmo que as críticas que ele faça sejam exatamente iguais às que todo mundo faz hoje, e, pior que isso, as mesmas críticas desde o século XIX.

O brasileiro acha que um presidente que transformou a carga tributária do Brasil numa das maiores do mundo é neoliberal. Ele também acha que o outro presidente, que continua a mesma política econômica e manda fechar os bingos, é tão de Direita quanto o anterior.

Finalmente, todo mundo ignora o apoio da raça jornalista a duas causas inegavelmente de Esquerda: as cotas nas universidades e o desarmamento. Estas causas, claro, são realmente positivas para a justiça social, e não devem ser vistas como sintomas de esquerdismo- pois, como sabemos, não existe no Brasil Esquerda de verdade.

E a coisa mais normal do mundo nas universidades é usar uma camiseta vermelha, na qual, orgulhosamente estampado, encontra-se o rosto... de Ronald Reagan.
 

Peixes:
terça-feira, outubro 12, 2004
 

RISCANDO O CÉU DE OUTUBRO

Como as gotas de chuva riscando o céu de outubro, aí vão, gotejantes, vários pequenos pensamentos.

***

Lucas Mendes, o apresentador do programa dominical Manhattan Connection, alça todas as semanas um esforço de imortalidade. Em vez de terminar o trabalho com o sóbrio "boa noite" de um Bonner, ele vai além - sorri e acrescenta um "até a próxima".

Concretizando-se cada "até a próxima" todo domingo, ele sabe que, de semana em semana, vai garantindo um pouco mais de vida. Mais sete dias de debates, guerras, descobertas científicas, escândalos, ataques terroristas, eleições, quedas e altas na Bolsa, lançamento de livros e filmes, entrevistas diversas, enfim - mais sete dias de vida neste planetinha tão movimentado.

Debatendo por um mundo melhor. Sete dias de cada vez.

***

Eu não entendo essa coisa de "ah, mas esse veículo é para um grupo mais politizado". Como se isso fosse sempre algo bom. Uma coisa é público mais culto, mais erudito, mais instruído... mas politizado pra mim soa como pessoa com mente formada, seguidora firme de um partido, dogmática, estagnada. O Betão é um cara super-politizado. Os guevaristas da FAFICH também, e também os panfletários do PSTU, os skinheads e os olavetes.

Agora, que a Caros Amigos¹ é orientada para um público mais politizado... ah, isso eu concordo.

***

Lembram daquele post onde eu discutia a noção de que o melhor caminho é sempre o do meio? Isto é, a idéia de que a verdade está sempre no equilíbrio?

Pois me veio a cabeça que essa idéia - que ilustrei ser errônea - nos foi herdada de Aristóteles. Ele que desde esse tempão todo já vem martelando a tal justa medida. Longe de mim discordar do fato de que as coisas têm realmente de vir em certas quantias, nem muito mais nem muito menos. Tal idéia, porém, revela-se completamente vazia e dotada de nenhum poder explicativo, quando observamos situações bem simples.

Entre jejuar para sempre e comer toda a comida do mundo, o melhor caminho não está no ponto médio dos extremos. Está na verdade extremamente próximo de um deles. Da mesma forma, entre falar somente a verdade e falar somente mentiras, não se leva uma boa vida mentindo em metade de tudo que falamos - na verdade, a porcentagem de verdades deve ser bem próxima do total de coisas que falamos, sob o risco de cairmos em contradições humilhantes e/ou perdermos vários pontos no quesito reputação. (esta porcentagem, evidentemente, pode ser substancialmente reduzida no caso de políticos, advogados, médicos e certas outras profissões).

Assim, Aristóteles nos ensina a seguir o caminho do meio, embora o meio quase nunca esteja realmente no meio. Mas que belíssimo ensinamento.

***

E tem aquela do estóico que entrou no bar e falou pro barman:

- Barman, nós somos todos racionais.

- Arrã - fez ele, enxugando um copo.

- Todos nós. Todos. Certo?

- Certo.

- E a razão é igual para todos... embora seja arriscado dizer que raciocinamos todos do mesmo jeito, todos, ao raciocinarmos, chegamos às mesmas conclusões.

- ...

- Cálculos matemáticos, estratégias militares, decisões cotidianas... se munidos das mesmas informações e usando o mesmo aparelho de raciocíno, pensamos - racionalmente - igualzinho.

- Sem dúvida.

- Mas e se a moral vier da razão?

- O que é que tem a moral a ver com isso?

- Ora, se a moral vêm da razão, e se somos todos racionais, e todos racionais do mesmo jeito, então a moral tem que ser igual pra todo mundo!

- É vero - grunhiu.

- Todo mundo, entendeu? A moral é igual para todos! Todos os malditos povos, culturas... todas as pessoas, independentemente de sexo, idade, religião, visão política... tem que ter o mesmo raio de moral! - e bateu no balcão com força.

- É o que parece.

Neste momento o estóico sacou uma arma e apontou para o barman.

- Mas o quê é isso?

- Passa a birita que hoje eu não tô procê não.

***

A morte de Christopher Reeve foi usada pela Rede Globo com fins políticos. No Jornal Hoje desta segunda-feira, logo após o anúncio da morte do ator e ativista, mencionaram que enquanto George W. Bush se opõe ao financiamento federal de pesquisas com células-tronco, John Kerry garante que se eleito vai gastar dinheiro nisso. Logo após esta comparação, mostraram uma pesquisa que indica o republicano com 44% das intenções de voto, contra 47% para o democrata - ressaltando, com certa má vontade, que a margem de erro da pesquisa é de 4 pontos percentuais - portanto, inda estão empatados.

Evidentemente, apesar de deixarem claro que as pesquisas com células-tronco podem no futuro salvar casos como o de Reeve, não ressaltaram que caso Kerry venha a financiar as pesquisas, terá que tirar dinheiro de algum lugar. E o orçamento do governo dos EUA não é lá o tópico menos polêmico do mundo.

Nada, claro, contra o ator e ativista Reeve, que fez valer na vida real o papel de herói que lhe fez famoso. Muito menos contras as pesquisas - Lula bem que podia cortar salários de deputados federais e senadores e usar o dinheiro para ajudar os cientistas brasileiros.

É profundamente triste - mas sobre os túmulos dos heróis os espertos fazem mais do que vender lenços.

Descanse em paz, Reeve. E que viva para sempre o Super-Homem.

***

Nesta cinzenta semana perdemos outro ícone cultural: Fernando Sabino. Agora eternamente ligados pela triste coincidência de terem deixado o mundo num mesmo - curto - espaço de tempo, não se sabe qual figura é mais digna do título de Grande Mentecapto.


¹ No Cartoon Network, a extremamente subversiva figura do Número Um apareceu iniciando um discurso com as palavras "caros amigos!". O que andam lendo os tradutores do Cartoon brasileiro...?
 

Peixes:
domingo, outubro 10, 2004
 

RÁPIDA E MORTAL

O uso do adjetivo considerável e do seu advérbio-irmão, consideravelmente, revelam muito sobre a opinião do autor. A princípio, qualquer coisa é considerável, exceto para aquelas pessoas que desejam permanecer ignorantes. Se alguma coisa é classificada como considerável e não está sendo cometido um pleonasmo, é porque muitas outras coisas são, certamente, ignoráveis - para não dizer desprezíveis.

Assim, da próxima vez que você vir uma frase como "esforços consideráveis por parte dos voluntários", ou "aumentando consideravelmente a taxa de desemprego", preste atenção para ver se aquilo é mesmo digno de consideração. Mais que isso - tente descobrir o quê o autor não acha considerável.

***

Tenho cometido erros ao escrever no DOIDIMAIS CORPORATION. O que apenas reforça minha tese do porquê dos textos dissertativos serem chamados de ensaios - são isso mesmo, exercícios em constante aprimoração que nunca chegam ao status de pronto e acabado. Muito embora esta definição se encaixe perfeitamente na Filosofia Ocidental, errar propositalmente apenas para consolidar a tese seria contra-produtivo. Seria no mínimo triste.

Mesmo porquê, posicionar-se firmemente contra as idéias formadas e sólidas é, por si só, uma posição formada e sólida. Ser totalmente anti-dogmático é ser dogmaticamente contra o dogmatismo.

Estou começando a me repetir em meus textos. Não tem (muito) problema. Carvalho, Veríssimo, Mainardi, Toledo e até o Millôr se repetem de quando em vez.

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Não desrespeite a realidade.

Ela pode ficar muito nervosinha.

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Diálogo real:

- A hipocrisia é o mais próximo que podemos chegar da virtude.

- Então o Cedê é o cara mais virtuoso da PUC.

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Tenho um amigo que chama aqueles com vidas amorosas pouco frutíferas de peganínguem (é assim que se pronuncia, com o acento no "nín".)

Meu professor de Teoria das Internações Relacionais outro dia falava dos Estados fracassados - aqueles como Serra Leoa ou Somália, com instituições quase inexistentes, serviços péssimos, nenhuma segurança. As chamadas "terra de ninguém".

Outro termo que já ganhou outro nome - terranínguem.

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Para quem mora em Belo Horizonte e recebeu este domingo o novo jornal Pampulha, em formato tablóide: leiam a coluna "sem saída", de uma tal Bianca Alves, na página E2. O texto parece ter sido escrito às pressas e não é desenvolvido adequadamente, mas é saboroso nonetheless. Lembra um pouco o DOIDIMAIS CORPORATION.

***

Se você é um bom atirador - confiante que pode usar sua arma para defender a si, sua propriedade e quem estiver próximo - faz muito bem em desrespeitar o Estatuto do Desarmamento e levar sempre uma pistola no porta-luvas do carro.

Mas, estando sozinho, leve também uma katana no banco do carona. Aí não tem mais problemas se a munição acabar ou se os bandidos chegarem muito perto.

***

Rabiscar à mão é melhor do que digitar apressadamente no computador. É mais fácil colocar acentos. Você nunca vai confundir maca com maçã.

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Assistir a Kill Bill - Volume 2 é um dever cívico. O filme não se parece com nenhum outro. Uma cena de claustrofobia nunca antes vista. Uma seqüência de treinamento que parece saída de um desenho animado. Diálogos brilhantes. Lutas empolgantes. Violência de fazer você mexer-se na cadeira. E alguns golpes, manobras e idéias de luta muito criativos. Em que outro lugar você viu alguém defender-se de um golpe de espada usando uma bainha para engolir a arma do adversário?

Ah, e claro - perceber que Uma Thurman é ainda mais bonita do que se pensava é também deveras agradável.
 

Peixes:
quarta-feira, outubro 06, 2004
 

A DIFÍCIL ESCOLHA

Faz parte do senso comum diferenciar assim as Ciências Naturais¹ das Ciências Sociais: enquanto nas primeiras o conhecimento e os paradigmas são certinhos e bem-definidos - com a resolução de problemas eficiente - nas últimas o que se tem são debates sem fim nos quais qualquer ponto de vista é aceitável, e os problemas nunca encontram uma solução satisfatória para todos.

Tal pensamento pulula nas mentes de muitos universitários de ambas as áreas. É um câncer, uma podreira sem fundamento algum, uma gigantesca duma besteira que só faz atrapalhar o discernimento das verdadeiras diferenças.

É claro que nas Ciências Sociais qualquer ponto de vista é aceitável. Da mesma forma que na televisão brasileira uma mulher anuncia que alimenta-se apenas de água e luz. Tenho certeza que os bacharéis em Medicina e Ciências Biológicas morrem de amor por essa mulher, por sua contribuição inestimável em espalhar os fundamentos da verdadeira Ciência. Certamente ela goza de todo o respaldo desses bionerds e afins.

É claro que nas Ciências Sociais ocorre o embate eterno entre velhos paradigmas. Da mesma forma que na atualidade convivem tanto seguidores quanto críticos de Einstein - e qualquer apreciador de Física saberá citar nomes de estudiosos de ambos os lados.

Sim, é claro que em Ciências Sociais não existem conceitos ou verdades absolutas. Nem soluções incontestáveis para problemas. Da mesma forma que em Ciências Naturais - constantemente pressionadas pelas novas descobertas e invenções a reavaliar antigas asserções, corrigir erros de cálculo, aprimorar a eficiência do que se julgava top de linha e até derrubar velhas verdades - como a impossibilidade de clonagem ou a indivisibilidade do átomo.

Ora, se a diferença entre Ciências Naturais e Sociais não reside na grande besteira que pensa o senso comum, onde está ela então? Se não, vejamos.

Falando do inevitável declínio de qualquer sistema internacional unipolar, Christopher Layne nos ensina

"altough prevention may seen attractive at first blush, it is a stop-gap mesaure. It may work once, but over the time the effect of differential growth rates ensures that other challengers will subsequently appear."

Isto é, a potência unipolar de um sistema internacional não fará bem em usar de ações militares para impedir que novas potências surjam. Esta é uma medida dispendiosa que no máximo pode atrasar por algumas décadas a inevitável ascensão de novos países super-poderosos.

Mudemos de assunto. Falando sobre a formação de grupos, e utilizando seu conhecimento em Economia para produzir Sociologia², Mancur Olson esclarece

" Quanto maior for o grupo, mais longe ele ficará de atingir o ponto ótimo de obtenção do benefício coletivo e menos provável será que ele aja para obter até mesmo uma quantidade mínima desse benefício. Em síntese, quanto maior for o grupo, menos ele promoverá seus interesses comuns".

Em outras palavras, os grupos grandes - que afinal são mais representativos e democráticos do que os pequenos - são, por outro lado, menos eficientes. Mas há esperança:

" Essa subotimidade ou ineficiência será menos grave em grupos compostos por membros de tamanhos, ou graus de interesse pelo benefício coletivo, muito diferentes entre si".

Ops, mas eis outro problema. Aumentar a eficiência significa reduzir a igualdade entre os membros do grupo.

Citando o professor John James³, escreve ainda Olson:

"Chegamos à conclusão", escreve ele, "de que os comitês devem ser pequenos quando se espera ação, e relativamente grandes quando se buscam pontos de vista, reações, etc."

O que apenas reforça o que foi dito pouco antes. Passemos a uma terceira questão das Ciências Sociais.

Falando da política de alianças no dilema da segurança, e sobre as decisões dos Estados em se aliar ou não, e qual deve ser o compromisso nelas, escreve Glenn Snyder:

" Once alliances have begun to form, the alliance security dilemma takes on a different character. That is (...) their choices are no longer whether to ally or not, but how firmly to commit themselves to the proto-partner and how much support to give that partner in specific conflict interactions with the adversary. (...) The horns of this secondary dilemma may be described by the tradtional labels "cooperate" (C) and "defect" (D), where cooperation means a strong general commitment and full support in specific adversary conflicts, and defection means a weak commitment and no support in conflicts with the adversary".

E continua:

"Each horn of the dilemma has both prospective good and prospective bad consequences: and the "goods" and "bads" for each alternative tend to be the obverse of those of the other. In the alliance security dilemma, the principal "bads" are abandonment and entrapment, and the princiapl "goods" are a reduction in the risks of being abandoned or entrapped by the ally. (...) The risks of abandonment and entrapment tend to vary inversely: reducing one tends to increase the other."

Estas três questões claramente ilustram o cerne da distinção entre as Sociais e as Naturais. Enquanto nas últimas a melhor solução para um dado problema é não apenas certa de existir, mas freqüentemente alcançada - e ainda encontra apoio largo ou mesmo unânime da comunidade científica - nas primeiras isto não ocorre, porque os problemas são ambivalentes, dialéticos, dicotômicos.

Isto não quer dizer que sempre exista consenso em Ciências Naturais. Isto não quer dizer que os problemas das Naturais encontram soluções definitivas.

Isto quer dizer simplesmente que em Ciências Naturais a lógica é sempre achar a melhor solução para um dado problema, com a certeza de que essa solução existe.

Por outro lado, os problemas em Ciências Sociais funcionam sempre na base do se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Sempre existem trade-offs, e saber qual lado é mais atraente é sempre muito difícil - especialmente porque nem sempre se sabe se há de fato um trade-off mais atraente do que o outro.

Ciências Naturais é uma questão de saber como escapar de um quartinho fechado. Ciências Sociais é uma questão de decidir qual das paredes desse quarto é mais macia para que possamos meter a cabeça nela com força.

***

Eu tenho mais um montão de idéias para postar, mas vou deixar para depois porque este post já tem bastante texto.

¹ Há um óbvio problema com a nomenclatura utilizada. Estudar coletividades e seres humanos me parece tão natural quanto estudar relâmpagos e gálaxias. Da mesma forma, toda Ciência é um fenômeno social, construída necessariamente sobre o trabalho de outros seres humanos, passado adiante pela cultura. Os termos "Biológicas", "Exatas" e "Humanas", porém, também não me agradam. O primeiro se recusa a incluir satisfatoriamente a Psicologia; o segundo obscurece todos os erros e imprecisões dos cientistas; e o terceiro é um pleonasmo: todas as Ciências são Humanas, pois somente os humanos fazem Ciência. Duh. Em conclusão, os rótulos apenas obnubilam as verdadeiras qualidades dos conhecimentos.

² Estou ciente do imenso perigo que é economista fazendo texto que acaba sendo aproveitado em Sociologia. Um certo alemão barbudo fez isso e as conseqüências são sentidas até hoje.

³ Sim, realmente parece um hoax. Eu também não acreditei quando li.
 

Peixes:
domingo, outubro 03, 2004
 

TREZENTAS E SESSENTA E SEIS VOLTAS

Ora, que bobagem! Não existem mensagens subliminares neste site! Quanta tolice. Beba Coca-Cola. Francamente, você acha que existem mesmo pistas escondidas nas imagens e nos títulos acerca do que acontece na vida do autor? Pff, aliste-se no Exército. Ora, mas tem que ser muito tapado mesmo. Assista Rede Globo.

***

Vocês esperavam mesmo um post sobre as eleições? Ora, eu não sou tão previsível assim. Por acaso vocês já prestaram atenção no nome desta empresa? Por acaso a marca inspira confiança para vocês?

***

Eu nunca entendi esse negócio de pedir uma sociedade "mais humana". Muito menos esse moví de trabalhar por uma sociedade mais humana. Eu me pergunto se isso é possível.

É razoável que se peça e se trabalhe por uma comunidade mais justa, mais solidária, mais segura, mais limpa, mais próspera, mais pacífica. A luta pela Justiça, pela Prosperidade e pela Paz é essencialmente humana - os demais seres vivos pouco se lixam para proteger o meio ambiente. As baleias, macacos, cachorros, árvores, bactérias e os outros não reciclam, não dão preferência aos produtos biodegradáveis, não usam o transporte coletivo, não fazem doações para instituições de caridade, se recusam terminantemente a comparecer às eleições mesmo com o voto obrigatório, não representam uns aos outros ativamente se candidatando para nada, enfim - são uns bocoiós.

Mas vejam bem. Os outros seres vivos também não fazem arrastões, não organizam chacinas para matar semelhantes, não matam exceto por uns poucos motivos, não são imprudentes no trânsito, não fazem terrorismo, não promovem ódio racial, não roubam dinheiro público, não fazem chantagens e não seqüestram ninguém. O ódio racial, o seqüestro, a chacina, a corrupção -também são coisas essencialmente humanas. Só seres humanos fazem esse tipo de coisa.

Assim, não há como pedir por uma sociedade mais humana. Ela já é tão incrivelmente humana que nada pode se fazer a respeito.

***

Além de Kill Bill - Volume 2, que finalmente chega ao Brasil nesta semana, filme que vai bombar é Sin City - com Bruce Willis, Jessica Alba e Elijah Wood - cujo trailer vocês conferem abaixo:

http://www.movie-list.com/s/sin-city.html

***

Para agüentar o dia de hoje, só mesmo ouvindo U2- It´s a Beautiful Day e a extremamente clássica The Underdog Project - Lady, e suportar as duas principais músicas na trilha sonora de Lisbela e o Prisioneiro: Neil Sedaka- Oh Carol e Caetano Veloso - Você Não Me Ensinou A Te Esquecer.
 

Peixes:
A corporação mais lucrativa, subversiva e informativa do planeta. Doidimais Corporation- expandindo pelo mundo para que você expanda o seu. Doidimais Corporation- ajudando você a ver o mundo com outros olhos: os seus. Doidimais Corporation- a corporation doidimais. doidimaiscorporation[arrouba]gmail[ponto]com

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