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domingo, outubro 17, 2004
 

A BATALHA FINAL

Esquerda e Direita, Direita e Esquerda, lutando para todo o eterno sempre uma com a outra, são inimigas irreconciliáveis, ideologias diametralmente opostas, totalmente convencidas de suas próprias virtudes e dos defeitos do outro lado, irremediavelmente defendendo as suas idéias como superiores e alertando os perigos em se seguir a adversária.

Isto tudo parece muito óbvio. Mas não é. O brasileiro médio - mesmo o brasileiro universitário médio - não faz a mínima idéia disto.

O brasileiro médio inadvertidamente identifica a Esquerda como crítica, ao passo de que a Direita é conservadora. Uma bobagem sem tamanho.

Não há absolutamente nenhuma relação entre querer manter ou alterar a política e pertencer a um dos lados. Nos países socialistas, os esquerdistas são retrógrados, conservadores, conformistas, autoritários e apáticos - e os direitistas é que são os revolucionários, os críticos, os que querem mudança, os que enxergam problemas, os que não se conformam.

Este esclarecimento muito simples escapa à mente da imensa maioria dos brasileiros, que insistem em ligar a característica "conservadora" ao rótulo de direitista, quando na verdade estes serão, muitas vezes, muito mais dispostos à crítica e à mudança do que os guevaristas. Num ambiente completamente hostil ao debate e à divergência como é o cenário universitário brasileiro, os direitistas é que são o pessoal do contra, o pessoal que discorda.

Outra coisa que escapa completamente à cabeça da maioria do pessoal é que a Direita é tão perfeccionista e infalsificável quanto a Esquerda. O brasileiro médio acha perfeitamente normal dizer que o socialismo soviético, cubano, chinês ou norte-coreano não soube seguir exatamente o que Marx ditava, e por isso falhou. Ele acha natural e muito inteligente falar que o socialismo real não é o "verdadeiro" socialismo, e, quando este vier, aí sim haverá uma sociedade com "justiça social" e um monte de outras coisas boas. Com a mesma facilidade, ele acredita que Hitler e Mussolini eram de Direita - fato consolidado até mesmo pela raça jornalista que ele diz ser de Direita (ver a página 121 da revista Veja de 13 de outubro de 2004, onde se diz que a Alemanha nazista e a Itália fascista eram "regimes autoritários de direita").

O brasileiro médio não sabe que os direitistas têm a mais plena convicção de que Hitler e Mussolini eram de esquerda. Eles não hesitam em dizer que Hitler era do Partido Nacional-SOCIALISTA, e de que ambos os líderes pregavam o Estado forte, grande e onipresente - inclusive com medidas como defender a extinção da Bolsa de Valores, fazer a centralização da indústria, criar gigantescos sistemas de previdência (Mussolini), ou leis estritas contra o porte de armas, aumentar o controle estatal sobre empresas, defender direitos dos animais ou eliminar as diferenças de classe (Hitler) - idéias totalmente simpáticas a um sem-número de militantes guevaristas.

O brasileiro médio também não percebe que um direitista nunca chamaria Hitler e Mussolini de direitistas, e, se a raça jornalista o faz com tanta satisfação e sem medo, é porque de Direita é que ela não é.

Mas essa confusão não é à toa:

O brasileiro médio acha lindo a China socialista estar crescendo espetacularmente, sem saber que as medidas que ela tomou para enriquecer claramente se afastam do ideário de Esquerda. Ele também acha muito bonitinha a política social igualitária dos chineses, mesmo que o IDH da China esteja mais de trinta posições abaixo do Brasil, país que como sabemos é super-desenvolvido.

O brasileiro médio acha perfeitamente razoável que Diogo Mainardi e Olavo de Carvalho chamem a atenção por suas tendências direitistas, ao mesmo tempo em que acredita que a raça jornalista é onipresentemente de Direita. Ele não percebe a evidente contradição aqui: se duas pessoas se destacam do unilateralismo justamente por seu direitismo, então a grande massa da raça jornalista é de quê?

O brasileiro defende que o socialismo acabou e que o discurso hoje é puramente neoliberal. Ele nunca viu um panfleto do PSTU e do PCO e nunca ouviu falar nesses partidos.

O universitário brasileiro se acha muito crítico, mesmo que as críticas que ele faça sejam exatamente iguais às que todo mundo faz hoje, e, pior que isso, as mesmas críticas desde o século XIX.

O brasileiro acha que um presidente que transformou a carga tributária do Brasil numa das maiores do mundo é neoliberal. Ele também acha que o outro presidente, que continua a mesma política econômica e manda fechar os bingos, é tão de Direita quanto o anterior.

Finalmente, todo mundo ignora o apoio da raça jornalista a duas causas inegavelmente de Esquerda: as cotas nas universidades e o desarmamento. Estas causas, claro, são realmente positivas para a justiça social, e não devem ser vistas como sintomas de esquerdismo- pois, como sabemos, não existe no Brasil Esquerda de verdade.

E a coisa mais normal do mundo nas universidades é usar uma camiseta vermelha, na qual, orgulhosamente estampado, encontra-se o rosto... de Ronald Reagan.
 

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