QUANDO O RATO SAI, OS QUEIJOS FAZEM A FESTA
Tenho um amigo que é o rei do pop. Ele teve uma hilária carta publicada na
Superinteressante que agora elevou-se ao patamar dos patamares da cultura pop: virou
forward de
e-mail. Sua brilhante idéia de dizer à revista que usou uma página dela para fumar maconha está agora percorrendo o ciberespaço como
spam. Se outra pessoa se der ao trabalho de escanear algo que você fez que foi publicado numa revista de circulação nacional - e ainda por cima passar isso por
e-mail - e, mais que isso, alguns receptores passam adiante mais uma vez - você acabou de criar algo
bem pop.
Como se não bastasse, ele é pago para escrever numa revista de circulação nacional (a
Dragão Brasil), e é um dos fundadores de uma das coisas mais engraçadas que li nos últimos tempos: a OverCrazy Foundation, paródia do DOIDIMAIS CORPORATION. A proposta é parodiar os posts mais recentes deste blog. O link é
www.overcrazyfoundation.blogspot.com
Bom divertimento.
(Resta saber se eles vão acompanhar o ritmo e sempre ter uma paródia do post mais recente. Embora o DOIDIMAIS CORPORATION dificilmente tenha mais de dois posts por semana, ele também nunca passa mais de uma semana sem posts novos).
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Frei Beto, Emir Sader, Bernardo Kucinski e Leonardo Boff nunca são chamados de "arrogantes", por mais que expressem certeza em suas dissertações. Diogo Mainardi e Olavo de Carvalho, por outro lado, esses sim são arrogantes. E essa qualificação é fundamentada no fato de que eles têm certeza demais de suas convicções.
Ou seja, adota-se um padrão duplo: se concordo com autor, ele é razoável; se discordo, é arrogante. E o pior é que quem me achar arrogante ao afirmar esta última frase fatalmente discorda.
Sei do que falo porque vivo isto na pele. Muitas pessoas já me chamaram de arrogante, e justificaram isso dizendo que falo com um ar excessivo de certeza.
Não somente isto entra em contradição com a minha idéia do
Tantos & Quantos segundo a qual todos pensam estarem certos¹ - esta crítica vem das mesmas pessoas que
nunca chamariam Boff, Sader, Kucinski e Beto de arrogantes, não veêm problemas em mitificar Guevara, e estão
convencidas de que "não existe verdade absoluta" - sem perceber que essa é uma idéia absoluta.
O que apenas me leva a lembrar do sem-número de afirmações que geram subprodutos no mínimo intrigantes ao serem aplicadas a si mesmas, tais como
"Não há verdade absoluta."
"O dogmatismo é ruim."
"Toda regra tem exceção."
"Toda pessoa tem preconceito."
A primeira afirmativa é uma idéia absoluta, completamente certa sobre a inexistência de verdades -
ergo, contraditória.
A segunda afirmativa é uma radical posição contra o dogmatismo da qual o enunciador não arrasta pé. Trata-se, portanto, de uma afirmação dogmática contra o dogmatismo.
A terceira afirmativa não é, a princípio, uma contradição em termos. Trata-se de uma regra - que pode, portanto, ter exceção. Tal fato não demole a frase, pois a exceção da regra pode ser justamente a regra. Por outro lado, a regra revela-se falsa com a simples constatação de que ela não leva em conta² regras gramaticas e matemáticas.
Todos os números naturais cuja soma de algarismos resulte num número divisível por nove serão divisíveis por três,
sem exceções. E
todas as proparoxítonas são acentuadas. A menos, claro, que o imbecil não saiba escrever direito.
A quarta afirmativa também não é uma contradição em termos. Ela apenas consolida e fortalece o preconceito de quem a enuncia - anuciando seu preconceito sobre todas as pessoas do mundo.
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Como qualquer pessoa normal, não fazia idéia do que queria fazer da vida. Somente a uns poucos anormais é concedida a paixão irrefreável por uma determinada profissão.
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Aquelas criaturas cujos corpos eram nada além de pés estavam seriamente ameaçadas.
Precisavam garantir suas
meias de sobreviência.
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"Afe" e "tsc", discretos na forma, podem ser escandalosamente negativos.
Existem poucas coisas melhores para transmitir antipatia.
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Existe coisa mais perigosa do que um jovem sozinho em casa durante o domingo inteiro... incluindo a manhã de segunda?
¹
Que é uma idéia boa em si, e não boa por ser minha. Aliás, de certa forma nem minha é mais, porque a entreguei ao mundo e não cobro direitos autorais por ela.
²
Fui prolixo. Poderia ter simplesmente escrito: "Por outro lado, a regra revela-se falsa simplesmente porque não leva em conta..."
Peixes: