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segunda-feira, março 31, 2008
 
ENTREVISTA COM ZÉ DO CAIXÃO

Sim, eu entreviste o Mojica!

Foi no Palácio das Artes, aqui em Bê Agá. Segue abaixo a EXCLUSIVA com ele.

Cedê Silva - Zé, de onde vem esse fascínio pela morte?

José Mojica Marins - Olha, eu acho que não é bem um fascínio, eu diria que é realmente um medo. Não um medo eu de morrer. Eu tenho sete filhos, onze netos, vêm mais netos por aí, podem vir mais filhos, né. Então eu vejo assim a morte num momento que não vai deixar eu ver o futuro, a vida de cada neto. E pessoas que dependem de mim estarem sem problema nenhum. Então isso me mete medo, d’eu morrer e deixar isso. Por isso que eu digo às vezes que eu não tenho medo do agora, eu vivo o agora, mas meu maior medo é o dia seguinte, que pode ser a morte. Ou o momento seguinte.


Tou falando contigo, de repente saio, posso ser atropelado, levar uma bala perdida, sei lá. Então o medo que eu tenho é das pessoas que eu deixo aqui. Eu me acho assim sucedido na missão minha de cinema, consegui o que eu queria, fiz, entende. Agora, eu acho que posso falar bem da forte porque em ‘76 tive uma parada cardíaca de quatro minutos. Fui considerado morto, o coração parou, né. E anunciaram até minha morte nos jornais, tal. Então com a volta minha eu vi coisas fantásticas. Ao menos nesses quatro minutos, eu senti muita dor. Então eu posso garantir que a dor – não adianta o cara dizer “não, eu quero morrer dormindo” – a dor vem naquele segundo. “Eu quero que um raio me caia e eu morra rápido”. Um tiro na cabeça, eu morro depressa. Mas aquele segundo que demora pra você morrer é uma dor. Terrível.

Então eu posso garantir que se as pessoas puderem protelar a morte o máximo possível, é melhor. A morte não é legal, você vê um cara, “não, eu não temo não sei o que lá”, tira um .38, põe na cabeça dele, um .22, ele tá morrendo de medo. Cara tá morrendo de dor, num hospital, você diz: “você vai morrer”, “não quero morrer”. Então ninguém morrer. É sinal de que do lado de lá as coisas não são legais.

Pessoal fala “num sei o quê, porque falei com os mortos”. Eu não acredito muito que ‘cê fala com os mortos. Porque se fosse isso eu sou um dos maiores pesquisadores de fatos estranhos. Casas mal-assombradas, sou chamado; surge num-sei-o-quê-lá em Varginha, lá vou eu; enfim – o bebê-diabo lá fui eu desvendar; vampiro num-sei-da-onde me chamam pra desvendar, e tudo mais ou menos baseado em morte. Agora, de tudo: eu vi gente levantar no velório do caixão, retratei isso em Finis Homini. Mas ele não estava morto, ele tinha tido catalepsia. Já acompanhei enterro que de repente soltaram o caixão no meio do caminho porque estava mexendo alguma coisa – era o cara com catalepsia também, que podia ser enterrado vivo. Agora, não vi ninguém, aí dizer que essa pessoa voltou da morte é mentira. Entende. Senão eu também tinha voltado da morte. Agora, o problema é que eu não vi ninguém em decomposição se levantar duma sepultura (faz efeito sonoro) e vir dizer: (voz de zumbi) “eu tive lá”. Não há.

Você pode ver aquilo que eles dizem “espíritos”. Mas é uma mentira muito grande. Porque a nossa mente, a nossa força – você sabe que a nossa voz sai e fica presa no nosso sistema. Por um bom tempo. Da mesma forma que a nossa voz fica presa, a nossa imagem fica presa. Eu tô conversando com você agora, tou sentado, ocupei um espaço, mas a minha essência ficou aqui. Pode ser que um dia alguém venha aqui e vá me ver aqui. Mas eu não vou fazer nada. Pode ser que me vejam depois que eu morrer. Às vezes essa essência fica por vinte, trinta, qüarenta, cinqüenta anos. Por exemplo, minha mãe morreu. Eu tinha visto ela três vezes vindo, me benzendo, como ela fazia, e saindo pra cozinha. Falei com várias pessoas, principalmente com uma cearense que morava na minha casa, de favor. Ninguém acreditou. Mas uma dia essa cearense ficou assustada, porque viu comigo. (voz assustada) “Olha! É a sua mãe!” Eu falei: “ó, fica calma, ela não vai fazer nada. Ela vai vir, vai olhar o quarto, vai me benzer e vai pra cozinha”. Então fica repetindo aquelas coisas, que na verdade são essências nossas que ficam. Então a pessoa pode ver um pai, pode ver a esposa, pode ver um filho, mas não adianta pedir nada pra eles. Eles não vão te ajudar em nada, porque são as essências deles que ficaram e podem aparecer pra você à noite, e você achar que você viu. “Não, eu vi espírito do outro mundo”, não. Você viu o que já tá aqui na Terra. É a nossa essência positiva, as radiações ficam aqui. Então isso existe.

Agora, pra que lado você vai, será que tem uma reencarnação. O que se diz de reencarnação, é muita gente falando. E também não sou muito, é, não quero dizer que sou ateu, mas não creio muito nesse troço que cê vai e vai voltar pra cá. Pô, isso aqui é um satélite experimental tão pequeno. Cê vai voltar exatamente pra cá, tendo um universo tão grande? Nós já somos egoístas em achar que só aqui tem vida. Então eu acho que pode ser que a gente vai, sei lá, pra um mundo paralelo, vai pruma outra dimensão, ou vai até pra outro planeta em outra galáxia, mas não acredito que você volta mais pra Terra. Foi, foi. Não volta mais. Não dá pra atender pedido nenhum. Agora, se é bom do lado de lá... (pausa) não sei. Pode ser que seja bom porque ninguém voltou pra falar.

Cedê Silva - O Zé do Caixão tem uma visão diferente da do Mojica sobre a morte?

José Mojica Marins - É, ele (Zé do Caixão) já acha que existe vida em outros planetas. Vê isso um caminho elevado, uma tecnologia muito elevada em outros planetas, e ele acredita em outra coisa eu acho que diferente do Zé (Mojica). Ele (Zé do Caixão) acredita na hereditariedade do sangue. Ele acredita na mente dele, por isso ele procura uma mulher que realmente não ame e nem odeie. Que pense como ele. Ele tendo um filho com ela assim, esse filho nasceria com o pensamento dele. Nascendo como ele, ele seria eterno. Esse filho daria vazão a outros filhos, né, poderia ter dois, três filhos, e daria vazão a outros netos, bisnetos, tataranetos e assim por diante, então ele ficaria para sempre. Então ele acredita na mente: que se a mente dele ficar, ela pode vir através do sangue e por isso o negócio dele é a Lei do Sangue. Nisso ele acredita demais e procura uma encarnação para fortalecer bem essa ideologia, essa filosofia de vida dele. Ele acredita nisso.

Não acredita em espírito de espécie nenhuma. Agora, em seres extraterrestres ele acredita, e acredita que pode ter uma evolução em um outro planeta das pessoas em vez de viver setenta, oitenta, cem anos, possam viver até quinhentos anos, ou mil anos. E possa ter algum lugar que de repente seja quase eterno. Eterno ele acha que jamais seria, mas poderia ter um modo de vida de até mil anos, daí pra frente.

Cedê SilvaHá alguns anos, o colunista Diogo Mainardi escreveu que se o filme não tem morte, não pode ser bom. Pra história ser boa, tem que ter morte?

José Mojica Marins – (pausa) Olha, tem que ter. Porque a morte é a coisa mais certa que nós temos na vida. Você sabe que ninguém vai ficar pra semente. Então nós temos certeza que um dia você vai morrer. Seja por acidente, seja de velhice. Então a morte é uma coisa certa, por isso que enquanto existir a morte vai ter o terror, o terror nunca vai acabar. Então eu acho que ele (Mainardi) tá certo. O filme tem que ter a origem, o nascer eu acho bonito, e de repente tem que ter o fim, a finalização de alguém, a morte.

E ver de que maneira a pessoa faz a morte. Não uma coisa como normalmente se faz, os bangue-bangues, os caras ficam lá no tiro, matam com um tiro só, matam meia dúzia, dez, aí fica realmente um trash, uma sátira. Eu acho que tem se levar a morte de alguém prum lado mais sério, mais amado. Mas um bom filme, um bom romance, uma boa história em quadrinhos, uma novela, uma série, tem que ter morte.

Cedê SilvaTem um filme passando no cinema agora, “Antes de Partir”, no qual Morgan Freeman e Jack Nicholson criam uma lista de coisas para fazer antes de morrer. Também são sucessos nas livrarias títulos com “coisas para fazer antes de morrer” ou “lugares para viajar antes de morrer”. A morte serve simplesmente para fazer com que as pessoas saiam de seus assentos e façam coisas? Esse é o objetivo?

José Mojica Marins – Eu acho que na verdade (pausa) a pessoa faz isso para ver se acha uma maneira de tomar coragem pra morrer. Porque ninguém tem coragem de morrer. Se dizer “olha, você vai morrer daqui a dez, doze horas”. Você vai contar aqueles minutos, nossa, você vai ficar desesperado. Então você procura algo pra ver se te entretém. Então fazer essas coisas pra depois que eu voltar, tal, cumprir uma missão, se é coisa de família eu acho que tem de deixar feito, não deve realmente deixar coisas para outros familiares e/ou amigos resolverem. Eu acho que você tem que resolver mas ao mesmo tempo isso faz você tomar coragem, ás vezes, de morrer. Eu acho que muita gente assiste fita de terror, fitas do oculto, do desconhecido, pra realmente pegar coragem de enfrentar a morte.

Cedê SilvaNo baralho de tarô, a Morte é um esqueleto com uma foice. Nos quadrinhos da Turma da Mônica, ela é uma senhora simpática. E nos quadrinhos do Sandman, ela é uma moça gótica. Qual é cara da Morte?

José Mojica Marins – (pausa) A cara da Morte na verdade a nossa mente pode fazer a que quer. O desenhista pode fazer a mulher com a foice, com a coisa como quiser, entende. Agora você pode ver a Morte como um homem. Pode ver a Morte como uma criança.

Eu... (pausa) lembro que escrevi... eu fazia Além muito Além do Além nos anos 60 na Bandeirante. E havia um trem que saía toda noite, às onze horas ia pro Rio. E o pessoal, todo mundo gostava de viajar nesse trem, porque tinha restaurante, tinha uma série de coisas. E eu uma vez com um amigo egípcio, que é muito amigo meu (pausa) a gente começou a ver uma pessoa – não definimos o rosto, por isso que eu falo, você põe o rosto que você quiser na Morte, não tem essa – só que vimos uma pessoa de preto. Completamente de preto, com um chapéu normal, preto. E essa pessoa estava sentada com um, e eu com esse amigo conversando.

Dali a pouco a gente olhava, esse cara levantava e sentava com outro. Passava um pouco, ele levantava e sentava com outro. Pô... aí resolvemos começar a entrevistar, como eu fazia o programa do Além muito Além, eu falei: “porra, só esse troço do cara aí tá dando o que fazer (sic), né”. No qual eu acabei fazendo Estranha Hospedaria dos Prazeres que era pra fazer realmente esse negócio num trem, mas aí ficaria muito chato na época, acabei fazendo hospedaria. Então começamos a sentar com a moça que o dito-cujo de preto conversou, ela disse que não viu ninguém. Fomos conversar com uma velhinha, fomos conversar com um senhor, fomos conversar com uma criança, ninguém viu ninguém. Fomos pro outro vagão que ele foi, ninguém viu ninguém. A única coisa é que o trem no meio do caminho parou. E uma pessoa se jogou. Do trem. Aí a gente supôs que aquela pessoa poderia ser a Morte, e somente estava confirmando, ela tava com algum problema, é rápido – é o que eu faço na Hospedaria, ela erra. Ela pega um que não tá morto depois ela libera o cara, né. Eu represento a Morte nesse filme.

Mas foi baseado nesse fato. Que até hoje eu sei, converso com ele, a gente até tá pra fazer uma fita meio estranha entre o Egito e o Brasil, né, e é um caso que me marcou demais, que eu não achei explicação e nem ele, que hoje é jornalista, advogado, uma série de coisas, é um cara riquíssimo, inteligente, mas ele fala: “eu vi. Eu tava com você. Foram dois que viram”. E vimos o trem parar e um cara que se jogou e morreu. Então o cara tava com os minutos marcados, simplesmente a Morte devia estar com algum problema, que ela queria ter certeza de quem que ela ia levar naquela madrugada.

Cedê SilvaUma última pergunta. Quando criança, você sonhou com seu túmulo, você via a data da sua morte. Você ainda lembra da data?

José Mojica Marins Não. (sorriso) Não foi bem assim não. Eu tive um pesadelo – eu me via arrastado para o cemitério, o que acabei pondo em Esta Noite Encarnarei em Teu Cadáver, só (longa pausa) que no meu sonho essa pessoa me levava prum túmulo onde tinha uma lápide. Nessa lápide tinha a data do meu nascimento e a data da minha morte. Eu não quis ver a data da morte. A da morte eu apaguei, não vi. Mesmo no sonho, o medo da morte, de pensar o que seria depois... Não foi bem de criança. Foi um pouco antes, foi esse sonho que deu vazão eu fazer A Meia-Noite Levarei sua Alma.

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Vocês são parentes? Se parecem.
 
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