CULPANDO O PAPA POR SER CRISTÃOLá no século XVII, quando ainda não havia PSDB nem Estados Unidos para serem os vilões da história, já existia a Igreja Católica. Claro que poderiam botar a culpa em Portugal, mas Portugal era tipo o Taiwan da época - ninguém sabia se existia ou era apenas piada do seu Joaquim.
Nesses mesmo século XVII foi assinado no que hoje chamamos Alemanha (e meu professor de economia provavelmente chama Alemanha Ocidental) o tratado internacional que leva uma marca ímpar: o de ser, indubitavelmente, o mais superestimado e supervalorizado de todos os tempos.
O tal Tratado de Vestfália (1648), que na verdade são dois mas na verdade são três (isso que dá ficar cinco anos negociando), foi imediatamente - quer dizer, imediatamente pros padrões da época, o que era mais ou menos uns três meses - rejeitado pelo Papa Inocêncio X, um papa que foi tão importante, mas tão importante, que eu li uma vez (agora não vou lembrar quem escreveu) alguém dizendo que seu único feito marcante foi o de ter sido pintado pelo Velásquez.
E por quê? Em boa parte, porque a tal Paz de Vestfália ignorou as demandas do Vaticano. Criou um Eleitorado novo, o que precisaria de aprovação do Papa; reconheceu a Suécia, protestante, como mantenedora do acordo; deu o oquêi pro calvinismo existir, etc. E isso tudo sendo que o processo foi liderado por uma França influente, que ainda por cima era governada por um cardeal, já que o Luís XIV era um pirralho de dez anos.
Então vamos lá: a Paz de Vestfália é um acordo de países europeus, assinado na Alemanha, que não deixou o Papa feliz.
Que
notícia recebemos hoje, 359 anos depois! A tal Declaração de Berlim, revelada domingo, é um consenso dos países europeus, assinado em... ahn... onde fica Berlim mesmo?; e que
não deixou o Papa feliz!
De acordo com o Mail & Guardian, Bento XVI pensa que a Europa está se desgarrando de suas tradições cristãs, está perdendo fé no próprio futuro, e está em crise demográfica.
De fato, uma Europa laica não pode sobreviver por muito tempo como a conhecemos. O desgarramento e a laicidade geram um vácuo a ser preenchido pelo Islamismo, com ou sem violência. O Professor Carvalho argumentou isto em
O Ocidente islamizado, no começo deste mês, bem antes do Papa.
Hoje eu li no Jornal Mural da FAFICH um "artigo de opinião" que só pode ser descrito como um virulento ataque anti-católico, bem à linha editorial Pravda que já é o padrão. Enquanto Igreja Católica for sinônimo de "obscurantismo", "Idade Média" e "atraso", a intelectualidade brasileira não tem muito o que avançar.
E por favor, vamos ter mais cuidado com o termo "União Européia". União Européia é lindo de falar, mas esse troço tem sido basicamente, até hoje, moldado e esculpido pelos interesses franceses e nos termos de Paris. O Reino Unido dá os seus palpites, sempre querendo mais manter a própria autonomia, e agora a Merkel quer descer a lenha também. O resto é resto. Imaginar que Itália, Espanha, Portugal e o resto da cambada estejam todos unidos, cada um com um voto, num processo sem líder e baseado na espontaneidade multilateral dos europeus não dá.
Ah, outra coisa. A "União" Européia depende da Rússia, maior produtor de gás natural do mundo e segundo exportador em petróleo. Ela não cresce sem que Moscou cresça também. E mesmo que a UE não se desenvolva tanto a médio prazo, não interessa, porque se a China continuar crescendo a Rússia também cresce.
Em suma: 1) a história se repete e 2) a UE não está com a bola toda.
Pelo menos é assim que eu enxergo. Você pode continuar enxergando: "nó, maIIIs esse papa é muito radical".
Peixes: