LIBERDADEPoucas coisas são mais nojentas do que aquelas pessoas que atrelam tudo a outra pessoa. Em sua maioria são garotas. São aquelas que em cada um dos campos de seu perfil no orkut mencionam o namorado. No "about me", qualquer coisa sobre como são bem resolvidas. No "passions", inevitavelmente "meu namorado". No "activities", "sair com meu namorado". Etcétera.
Quando vão conversar, sempre falam do namorado. ´Tava conversando com meu namorado sobre isso, meu namorado faz aquilo, ai meu namorado é lindo, e não sei mais o quê. Uma vez uma carioca faficheira falou, num tom mais elevado do que o apropriado, durante o intervalo de uma aula: "ai, sabe aquele sensação de quando você acorda e está toda quebrada, cansada, mas pensa, '
fisch a noite inteira'?".
Isso é muito desagradável.
Porque tantas pessoas fazem tanta questão de mostrarem que são bem resolvidas e amorosamente felizes (
or rather, comprometidas)? Parece haver um severo problema de auto-estima, que as impele a reafirmar constantemente seu estado civil.
O que acontece com essas pessoas quando elas terminam? Afundam em depressão crônica? N
o wonder que a depressão é uma doença cada vez mais freqüente (ver
Superinteressante deste mês). Com tanta gente cravando unhas e dentes numa única razão de viver, só podem mesmo mergulhar na cerveja, no cigarro e na música sertaneja.
As pessoas que só falam do namorado são tão chatas quanto as que só falam de intercâmbio.
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Por outro lado (
or rather, pelo mesmo lado mesmo), devo admitir que um relacionamento afetivo estável é de fato uma puta base para agüentarmos barras. Na verdade, durante muito tempo eu tinha a perspectiva de que, não tendo muito mais a alcançar (a curto prazo) em nenhum dos
outros campos da minha vida a não ser com um evento improvável que me providenciasse uma oportunidade muito promissora¹, a única coisa que faltava para eu ser completamente feliz era um relacionamento estável. Pensava ainda que se eu tivesse um relacionamento estável eu sempre permaneceria
acima de um nível de contente, porque qualquer fracasso em um dos
outros campos pareceria menos importante se eu pudesse contar com o sucesso no campo afetivo. Esta atitude era ainda mais reforçada dado o longo histórico de insucessos
in the field.
Suponhamos que tenha surgido recentemente a oportunidade científica de confirmação dessa hipótese. E que, entretanto, a comprovação empírica ainda não foi satisfatória.
Notwithstanding, poderia estar diante de uma profecia auto-realizável. Eu sempre tive essa perspectiva e essa atitude, logo, se conseguir um relacionamento eu
estarei sempre acima de certo nível de contente
porque sempre julguei que estaria, e, inclusive, a variável relacionamento pode contribuir para que eu preste menos atenção às outras,
de modis que a profecia se fecha².
É tudo muito simples.
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Minha recente descoberta do mundo da filosofia pós-moderna promete saborosos e divertidos frutos. Conceitos como
comunidade epistêmica,
instrumento-efeito,
regime de verdade,
sistema de crenças,
forma jurídica,
regime de poder e demais tintas foucaultianas são ferramentas poderosas que serão úteis tanto em divagações jornalísticas quanto no aproveitamento mais completo da obra do
Professor Carvalho.
Claro, se a Barbara não ficar enchendo o saco.
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Diogo Mainardi foi bem-sucedido mais uma vez. Com sua coluna desta semana, na qual fala em atear fogo ao PSDB, enterra a sessenta palmos a idéia guevarista de que ele é tucano, "verdade" que nunca teve base e
sempre esteve
enraizada na mente de tudo quanté "pensador" brasileiro, professores em especial destaque.
A verdade é que Mainardi é muito mais inteligente que os guevaristas, e consegue enxergar o óbvio: o PSDB nunca passou da direita da esquerda.
Stricto sensu, pouco importa se os políticos dos dois partidos estão interrelacionados nos esquemas de corrupção ou qualquer bosta; o PSDB também é formado por guevaristas, propaga o guevarismo e pertence ao Foro de São Paulo, a associação dos guevaristas latinos. Entre os guevaristas vermelhos e os azuis-e-amarelos, é meramente questão de estética. Entre Mula e Alckmin, é meramente uma escolha de com ou sem barba.
Triste o país no qual uma vez dada a cabeça, a ideologia, os compromissos internacionais, as alianças e o rabo preso do Presidente, só resta ao povo escolher a cor da gravata.
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Quando eu estava no segundo ano do Ensino Médio e fui apresentado à uma revisão da história de Jesus, achei muito bacana. Cristo, me disseram, não teria sido simplesmente um pregador da mais firme e resoluta moral; antes, era um revolucionário, um agitador, porque suas idéias eram fundamentalmente opostas ao
status quo dos romanos e judeus dominantes. Eu achei aquilo o máximo.
Recentemente tive o
insight: tudo aquilo não passava, sem dúvida, do alicerce da Teologia da Libertação (leia-se guevarismo de pseudocatólicos).
Champagnat deveria descer a guilhotina nessa moçada.
¹
Esqueci a nota que ia pôr aqui.
Ah!, lembrei. Sobre isto, assistir "Match Point", do Woody Allen.
²
Pronuncia-se fÊcha, é claro.
Peixes: