BARGANHAS & BUROCRACIASTive recentemente três decepções na minha vida.
Nah, tou brincando. Foram apenas desapontamentos cotidianos com pessoas mundanas (figurantes no grande seriado da vida) com as quais eu sequer interagi:
1) Eu ´tava andando na Avenida do Contorno e conseguia ouvir atrás de mim as vozes de dois jovens, sem dúvida crescidos e muito boca-suja, tecendo os comentários dos mais espinhosos sobre os fatos da vida (i.e., garotas). Eu tinha certeza de que eles deviam, pela voz e pela fala, ser da minha idade ou ao menos próximos. Sou forçado a parar de andar porque o semáforo fica vermelho para pedestres.
Ao meu lado, surgem dois garotos que dificilmente ultrapassam os catorze anos, bonés
and whatnot...
2) Eu ´tava no ônibus¹ sentado ao fundo, e num daqueles bancos inversos (no qual o passageiro viaja de costas) estava sentada uma bela moçoila de
jeans e camiseta, usando um fone de ouvido. De repente, eu percebo que ela abre um largo sorriso, e chega a rir sozinha. Tenho comigo o doce pensamento de que ela certamente está recordando uma memória muito agradável ou começou a
viajar em algum formidável plano; ou, no mínimo, está ouvindo os primeiros segundos de sua música favorita. Encho-me de satisfação com o fato de que a imaginação e a felicidade interna habitam todas as mentes humanas, bem como a empolgação vívida e simples que temos com música. Então reparo que ela está falando sozinha. Estremeço. Ela está viajando mesmo!
Não, espera - o fone de ouvido está conectado a um celular. Ela sorriu simplesmente porque era alguém falando com ela no telefone...
3) Eu ´tava sentado num banco do Pátio Savassi, terminando uma lata de Coca-Cola. À minha frente, a vitrine da
Leitura, na qual alguns garotos apontavam empolgados para os produtos à mostra; ao meu lado, no outro extremo do banco, um gordo de óculos que era sem dúvida pai de pelo menos um dos moleques. Pelo comportamento e respostas dele diante do entusiasmo dos meninos, não tinha dúvidas que se tratava de mais um pai desnaturado desses que vemos todos os dias. Eis quando um dos garotos deixa cair um dos bonecos que segurava.
"Ei filho", diz ele, "pega o Número Dois aí, ele caiu".
Número Dois! Ele sabia o nome do personagem!
(tá certo que, por outro lado, o
Número Dois se parece com o tal pai...)
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Conclusão: nós somos programados para nos decepcionarmos.
É verdade! Não é questão de memorizar preconceitos. Nós
construímos preconceitos automaticamente. Basta recebermos estímulos (visuais, auditivos, que o valha) que
não conseguimos resistir à tentação de tentar entender o que está havendo. Imediatamente passamos a encaixar peças e supôr outras. Resultado: se a situação tiver uma única variável imprevista, nós quebramos a cara.
And we CAN´T help it. Enquanto continuarmos tentando entender as coisas, continuaremos quebrando a cara.
Divertido, heh?
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Estou vivendo minha última semana adolescente. Hoje, por exemplo, é minha última terça-feira adolescente. Meu último dia adolescente é sexta.
Aqui e ali faço coisas típicas de adolescente. Ou ao menos da minha adolescência. Por exemplo: sair sem beijar na boca, perder prazos, e ir ao dentista.
Hmmm. Pensando bem, talvez eu prefira voltar ao mês passado. Aquilo foi tipo um universo paralelo.
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Vocês sabiam que um monte de gente leu o último post ("A Persistência da Memória"), adorou, e não deixou comentário? O pessoal é tímido, só comenta privadamente, pelo MSN. ´Dá vontade de publicar esses comentários no blog pra todo mundo ver =p. Nah, brincadeira.
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O Teorema da Incompletude de Gödel afirma que nenhum sistema pode explicar a si mesmo. Tipo: só com a matemática dos números naturais (N) não dá pra fazer tudo que é possível com os números naturais. Você sempre precisa sair da caixa pra entender toda a caixa.
Será que então o cérebro humano é indecifrável? Afinal, entendê-lo requereria que a gente saia dele?
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Depois da 4ª série e antes da faculdade eu só tinha amigos caras. Eu nunca participei daquelas turminhas super-maneiras mistas que no final todo mundo acaba ficando com todo mundo, como nos seriados. Evidentemente, isto não quer dizer que eu não conversava com garotas; apenas, que as via somente em aulas e festas.
Hoje eu participo de turminhas super-maneiras mistas que no final todo mundo acaba ficando com todo mundo. E claro que é muito legal. E eu fico pensando: se eu tivesse participado dessas turminhas desde o começo, teria sido MAIS legal?
Mas
then again, se
sim, e se tivesse sido mais legal, eu nunca CHEGARIA a cogitar!² a possibilidade contrária. Eu sentado no McDonald´s da Savassi pensando "nossa, já imaginou se durante o Ensino Médio eu só tivesse amigos caras..."
¹
Fica parecendo Gererê né! "Eu ´tava", etc.
²
Uso livre do "!" para que a escrita pareça mais com o modo como eu falo (de vez em quando ponho ênfase numa palavra no meio da frase e interrompo a fala por um instante, exatamente como está escrito).
Peixes: