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segunda-feira, outubro 03, 2005
 

AS FLORES DA ESTAÇÃO

Ao som de Hale-Bopp - Star Ocean Summertime OC Remix


Quantos dos nossos pensamentos se devem à juventude? Quanto da nossa forma de enxergar o mundo se deve ao fato de que temos uma certa idade, e de que vivemos principalmente de estudar e de festas irresponsáveis?

Esta shiver down the spine que eu sinto quando ouço a música que acompanha este tópico ou coisas como Forever Young se deve unicamente a melodia, ou ao fato de que me identifico com a letra? No segundo caso, será que a sensação vai se perder quando eu ouvir músicas novamente daqui a décadas, já idoso?

Quando falo desta sensação de que a vida é algo épico e grandioso e de que podemos mudar o mundo com esforços heróicos, não falo de uma ideologia falsa ou de uma ilusão qualquer. Essas coisas duram tempo demais. Falo da sensação que dura nunca mais que alguns segundos, e que é tão vibrante e autêntica que não pode ser despertada por um discurso inflamado¹ qualquer ou por um cartaz ou panfleto. Ela é acompanhada por rápidos e intensos flashbacks de momentos de nossa vida, por vezes analogados a grandes histórias que conhecemos. Ela só surge em ocasiões personalíssimas: os poucos segundos de uma determinada música ou um momento especial de um filme, as linhas mais empolgantes de um livro, ou um discurso realizado numa ocasião especial - como a sua formatura - especialmente se você estiver fazendo o discurso em vez de apenas ouví-lo.

Esta sensação de que a vida - a sua - é uma história grandiosa demais para ser narrada apenas em palavras é um dos grandes mistérios da existência, e, juntamente com os sonhos, certamente dos mais fascinantes².

Drifting away, back into sweet slumber again
I'm waiting for you to bring me back to life some day

Houve um tempo que "cidadão do mundo" era um título que chamava a atenção. Viajar era coisa de solteirões excêntricos, pessoas cujas profissões as obrigavam esse privilégio (diplomatas, executivos de multinacionais, esportistas, artistas, etc.), e famílias muito ricas.

Hoje viajar já enjoou. Todo mundo conhece vários intercambistas. "Intercambista", inclusive, virou identidade e eles formam clubes, associações e tem suas próprias festas. Já existe até o tipinho, todo mundo deve conhecer, que estraga qualquer festa: aquele que não somente só conversa sobre suas experiências no estrangeiro (parece que nunca viveu nada interessante no Brasil), como também está plenamente convencido de que aqui não é o lugar dele. Pode até chegar a achar alguém atraente unicamento pelo fato de que esse alguém nasceu em outro país.

Que aqui não é o lugar dele ele está certíssimo. Se todos os chatos fossem expulsos do Brasil já seria um grande passo nosso em direção ao Primeiro Mundo. Agora, não precisa ficar alardeando isso pra todo mundo. Já sabemos que o Brasil não tem lá muitas oportunidades.

Existe muita gente que não sabe o que fazer da vida. Muitos deles prestam vestibular pra Direito e Comunicação. O cara que não sabe o que fazer da vida e fez intercâmbio faz Internações Relacionais.

O "cidadão do mundo" se tornou algo tão desinteressante que hoje o impressionante é alguém conhecer de fato um lugar.

Wake up from bliss now that the night has come to pass
I'm now dreaming of a life I hope to live one day

Tão sábio quanto seu colega de profissão Carlos Drummond de Andrade é o poeta Samuel Rosa quando diz: Os amores imperfeitos são as flores da estação.

Far away in your confusion
Understand, you are only human
WHY... TRY... to fake resolution?
Look around you, it's all an illusion

Mas esta sacada aqui é minha: "A Humanidade não acaba. Vaso ruim não quebra."

Now on my own, never to see summer again
I'm not looking back on what my life became that day

Há uma necessidade nos autores - mesmo os teoristas sérios (leia-se, autores de não-ficcção) - em terminar seus livros e artigos com frases inspiradoras e satisfatórias. Mesmo num livro sobre macabros dilemas de segurança e sobre as fatalidades trágicas da política internacional, ou sobre uma violenta guerra ou das possibilidades oferecidas por armas químicas, o último parágrafo é sempre uma coisa esperançosa e reflexiva.

Isto reflete uma característica psicológica dos cientistas ou é simplesmente algo para tornar a leitura mais palatável para o consumidor?

***

Ah, a música que ilustra este post tem tudo a ver com uma crítica construtivista às teorias neo-utilitaristas em IR. E o verso "why try to fake resolution" é simplesmente perfeito. Justifica um videoclipe da música com cenas de MUNs.


¹ "Discurso inflamado", eita clichê.

² Para ótimos textos sobre o assunto, que conseguem colocar em palavras tudo aquilo que você apenas sentia, ver http://www.heavengames.com/cgi-bin/forums/display.cgi?action=ct&f=1,327001,,all .
 

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