CHEERING UP, CHILLING OUT
(Ao som de Baldur´s Gate II - Aerie)A eterna luta entre beleza e utilidade é isso mesmo: eterna. Mas os profissionais do
design insistem que os dois podem ser mesclados, e desenham todos os anos os produtos mais extraordinários, não raro não sacrificando a usabilidade. Nem sempre é isso o que acontece. Já vi saleiros e lixeiras que, embora tenham um
design interessante, são consideravelmente menos fáceis de usar do que suas contrapartes prosaicas. Objetos de arte não precisam ser lá úteis no sentido
down-to-earth, maneira-ICEX-de-se-pensar da coisa (embora às vezes o sejam); mas ferramentas cotidianas de modo algum podem se importar mais com beleza do que com usabilidade (a menos, é claro, que você
can afford it, caso no qual provavelmente não é você quem usa as ferramentas, mas seu séquito de empregados).
Donde lançamos nosso olhar para textos acadêmicos. Eles precisam ser bonitos? Certamente não seria justo exigir que todos sejam escritos em prosa brilhante, com a linha de pensamento deliciosamente ácida dum Machado de Assis, o saboroso estilo descompromissado dum Fernando Sabino, a leveza dum Pedro Bandeira ou Luis Fernando Verissimo, o ritmo intenso de reviravoltas de J.K. Rowling e Douglas Adams, ou a maestria narrativa de Tolkien.
Mas precisam ser tão chatos? Tão intragáveis?
Se um erudito mais chato apontar para como a erudição só vem com esforço, apontando para textos intragáveis e indigeríveis de Kant ou Morx, fica a pergunta: porque eles não podem escrever como autores tão brilhantes quanto Karl Popper, Hedley Bull, Martin Wight, Peter Schelling, Paul Kennedy, John Mearsheimer, Nicholas Onuf? Eles escrevem de maneira sucinta, fácil de acompanhar, recheiam de exemplos, não são afeitos a palavras obscuras. Seus textos são agradáveis de ler e não perdem com isso nem uma parte infintesimal de counteúdo.
Textos agradáveis de ler chegam até a ser mais frutíferos cientificamente. Observem a quantidade de artigos que existem criticando Mearsheimer. Existiria tanta produção assim se os textos dele fossem chatos e arrastados? Claro que não. Quando os pesquisadores, teoristas e estudantes conseguem entender com menos
custo-saco as idéias expressadas, todos ganham.
Como se não bastasse, textos agradáveis de ler são mais rigorosos cientificamente, porque existe menos discordância sobre o que o autor quis dizer. Até hoje existem debates sobre o que Morx, o barbudo alemão que deixou o filho morrer de fome, quis dizer. Se ele tivesse escrito de forma clara, sucinta e acessível (como seu xará Popper) em vez volumões inpalatáveis, a energia dispendida nesses debates poderia ir para assuntos mais frutíferos.
Textos agradáveis de ler, reitero, nem de longe são mais prosaicos, menos ambiciosos, ou menos explicativos do que os outros. Pelo contrário, é o excesso de elocubrações que é uma tentativa maldisfarçada de ocultar a falta de substância. Hobsbawn, com suas citações literárias obscuras, nem de longe
manja tanto quanto Paul Kennedy ou Giovanni Arrighi. Um bom denuncista desta prática é Olavo de Carvalho, que não raro derruba Marilenas Chauís e Freis Bettos demonstrando a fraqueza dos argumentos por trás da enrolação toda.
Não basta conhecer o assunto e entender das coisas. Não basta um texto com algum conteúdo e gramaticalmente correto. Um texto
tem que ser agradável de ler. As escolas, infelizmente, não ensinam a escrever, só a produzir textos. E muitos teóricos parecem totalmente desinteressados nisso.
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No requiem de um importante personagem (não, não o político do Nordeste), reflexões profundas e
download de músicas boas. Contatos de toda a sorte. Feriado na segunda-feira. Músicas cheer up, chill out incluem:
Zeca Baleiro - TelegramaU2 - It´s a Beautiful DayCharlie Brown Jr. - Hoje eu Acordei FelizYann Tiersen - La Valse d´AmelieJohn Williams - Buckbeak´s FlightPra ouvir quando você está se sentindo bem.
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Títulos novos para coisas (a criação do título vem muitas vezes antes de qualquer decisão sobre o conteúdo de um livro, disco, filme ou história, é minha tese¹) :
ESTILHAÇOS & PEDAÇOS
SITES & INSIGHTS
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A imaginação dos pobres faficheiros é pequena demais. Quase tenho pena. O mais evidente sintoma da total falta de imaginação do faficheiro é quando, ao levantar a mão para fazer uma pergunta, ele antes avisa "Isso é meio viagem minha..." ou "Sei que pode ser meio que uma viagem...". Sabem por quê?
Porque a tal pergunta NUNCA é uma viagem. É sempre uma indagação completamente natural feita a partir de uma observação absolutamente prosaica. A pergunta é sempre desprovida de originalidade - quando não cai no mais absoluto óbvio.
Muito mais intrigantes são as questões feitas de forma clara, concisa, direta e impactante. O pedido de desculpas que antecede a pergunta é uma tentativa mal-sucedida de disfarçar o conteúdo prosaico da questão. Estou com os politicamente corretos quando eles afirmam que "nenhuma pergunta é idiota". Mas sinto muito, chamar qualquer perguntinha de "viagem" é elogio sem merecimento.
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Zhang Yimou + Cartoon Network:
WUXIA LUCHA
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Frase da semana:
"A sociedade vai utilizar esse conhecimento".
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Lanterna Verde¹
Uma delas, na verdade.
Peixes: