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terça-feira, julho 12, 2005
 

UNEXPECTING THE EXPECTED

O maior impacto dos ataques (e não "atentados", não gosto desse palavra porque parece que foi "tentativa" quando na verdade o plano deu mais do que certo, infelizmente) terroristas de 7/7 não está no efeito psicológico sobre a civilização ocidental, nem na exposição de uma suposta fragilidade da segurança britânica, nem no avanço de uma suposta "causa" da Al-Qaeda (causa essa que, se alguém sabe qual é, favor explicar. Causas subliminares e interpretações, claro, não contam).

O maior impacto dos ataques está nas vidas mesmas dos sobreviventes, e dos parentes, amigos e colegas de trabalho das vítimas. O impacto mesmo está nas mortes, ferimentos e traumas daqueles que estavam nos metrôs e no ônibus, e das pessoas que os conhecem. A esfera que percebe a importância maior do ataque é a humana - pessoal e individual - antes da política ou qualquer outra.

Infelizmente, este impacto é o menos acolhido pela cobertura lidiática (sic) e o menos observado nas conversas de botequim. Dá-se preferência a especulações sobre qual será a próxima cidade a ser atacada, o destino dos autores dos ataques, a competência da Scotland Yard, os motivos e intenções dos terroristas, e outras considerações.

Não considero arriscado atribuir isto a gigantesca dessensibilização provocada pelos ataques de terça-feira¹. Após uma estratégia tão espetacular, que pôs abaixo cartões-postais e ceifou três mil vidas num otherwise uneventful setembro - construindo pelo mundo a imagem de que ele nunca mais seria o mesmo - a Humanidade não se choca com absolutamente mais nada. Os ataques a metrôs de Madri ou a escolas em Beslan, por mais comoventes e tristes que tenham sido, não conseguiram arrancar as mesmas emoções de terça-feira. O número de vítimas não é necessariamente o fator a ser considerado: o 26 de dezembro matou e destruiu infinitamente mais. Ainda que seja considerado que foi um ato natural (exceto para os que tecem conspirações de que Bush foi responsável), e que uma imensa campanha de solidariedade - exemplificada pelos esforços da ONU - tenha sido edificada, a comoção e manifestação em torno não alcançou o volume da ensurdecedora terça-feira.

Ricardo Amorim, um dos membros do Manhattan Connection, disse mais de uma vez que previa o "próximo grande ataque terrorista" para Londres. Os londrinos têm cinqüenta e dois mortos. Ele tem agora a satisfação de quem acerta.

***

Amigos guardam segredos?

É demagogia dizer que não?

Suponhamos três amigos: A, B, e C. Eles são todos amigos entre si (temos as dyads A-B, B-C e A-C). Suponhamos que A gostaria muito de contar algo para B, mas por alguma razão não quer que C saiba. Digamos não algo ingênuo como uma festa-surpresa - algo que B concordaria em esconder de C para o benefício deste mesmo - mas algo mais grave. Suponhamos que A e B sejam XY, C seja XX, e A esteja apaixonado por C.

Embora A adoraria contar para B a respeito de sua paixão, não o faz: sendo um ator racional, antecipa a estratégia que B adotaria logo depois: contar para C tudinho. Isto é especialmente verdade se 1) os laços de amizade entre B e C são mais fortes do que os entre A e C; 2) A está incerto sobre a qualidade dos laços entre si e B.

Seriados - seja cínicos como Sex and the City ou otimistas como Dawson´s Creek - nos confirmam a rede de mentiras e máscaras que é a vida, mesmo entre pessoas que gostam muito umas das outras.

Pensar sobre amizade, relacionamentos e coisas do tipo não é piegas, é fundamental. Seres humanos fazem amigos. Isto me lembra inclusive um episódio que narraram-me recentemente. Numa recente dinâmica dum processo de seleção de empregados para a Câmara Alemã, pessoas sem senso de prioridade - asked to colocar valores em ordem de importância - posicionaram "competência" antes de "amor".

Na vã tentativa de parecem preocupados com trabalho, revelaram-se uns completos infelizes.


¹ Para quem não sabe, minha forma de me referir ao que aconteceu nos EUA na segunda terça-feira do nono mês do segundo ano do terceiro milênio. Escrevendo desta forma, evito as palavras que são sempre repetidas, não contribuindo ainda mais para a dessensibilização.
 

Peixes:
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