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domingo, maio 08, 2005
 

ENTRE AS ESTRELAS TRÊMULAS

(ao som de Olavo Bilac - Ao Coração que Sofre)

Muito se discutiu, nas semanas recentes, sobre o conservadorismo do único monarca eleito do mundo, o papa Bento XVI. Reclamou-se e acusou-se o papa de um monte de coisas. Até de nazista o chamaram. A conclusão, repetida inúmeras vezes, é aquela: o conservadorismo de Bento XVI é inadequado para os tempos atuais, chegando mesmo a ser perigoso. As posturas anti-abortistas, anti-homossexualistas, anti-planejamento familiar e anti-eutanásia da Santa Sé são vistas como terríveis obstáculos para a justiça *cof cof* social e uma sociedade mais *cof cof* humana e *cof cof* tolerante, com *cof cof* liberdade.

Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo

( Cabe aqui um monte de coisas. Mas tecerei duas observações¹. Por isso escrevo: )

Estou longe de concordar com tudo o que Bento XVI pensa. E sou ateu e herege***. Mas cabem aqui duas observações.

Primeiramente, diante de considerações recentes que vieram à luz principalmente pela eleição do novo pontífice e pela leitura de certos textos, dentre os quais destaco "O Anúncio da Paixão", de Olavo de Carvalho², eu descobri uma contradição que exisitia nos meus próprios pensamentos. Ao mesmo tempo em que mantenho uma crença em valores absolutos que tomo como positivos (Justiça, Bem Maior, Honestidade, Liberdade, dentre outros), eu resistia na inabalável crença - expressa em vários textos deste blog - na constante aprimoração e refinamento das dissertações e idéias. Esta idéia é uma contribuição do meu aprendizado de Filosofia no Ensino Médio, e foi de fundamental importância para meu começo de formação como articulista (começo esse que ainda está em seu começo) e minha curiosidade em ler pensadores e articulistas pouco familiares para meu meio de colegial (leia-se, Olavo de Carvalho e dezenas de blogs). Segundo esta concepção, que mantive por mais de três anos e (em grande parte) abandono agora, devemos ter uma postura incansavelmente crítica e desconfiada - e isto significa aceitar que os ensaios, dissertações, pensamentos, considerações e idéias estão em constante refino e aprimoramento.

Ora, aqui temos uma contradição. Eu não posso manter essa postura ao mesmo tempo que rigidamente afirmo fé em vários valores sólidos. Eventualmente, ou a) eu abandono, substituo e/ou upgradeio os valores firmes ou b) refreio o instinto da crítica incansável for the sake desses valores, tornando-me um dogmático para mim mesmo. De um ponto de vista lógico, ambos os resultados são inaceitáveis³.

Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo

Assim sendo, corrijo a contradição, e preferindo os valores à marcha progressista sem fim e sem limites - que está inevitavelmente associada à crença do progressismo na História, a concepções morxistas, e a relativismos perigosos - abandono a crença no constante aprimoramento das idéias, sem perder o instinto da crítica incansável. É possível manter-me reavaliando constantemente os valores sem que para isso eu deixe de considerar a possibilidade de que eles sejam, de fato, absolutos. É possível lançar esforços para constantes retoques em ensaios e elocubrações minhas sem deixar de considerar que alguns textos e sermões são obras-primas. E é exatamente isso que vou fazer.

Inclusive, eu vou fazer num texto futuro (que bubiça, se eu vou fazer, só pode ser num texto futuro) uma ilustração desse relativismo moral com base nos ataques ao sistema de Alinhamentos no Dungeons & Dragons. Não perca os próximos capítulos!

E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;

Agora a segunda observação. A parte menos Filosofia e mais IR da coisa.

Muito me surpreende que as pessoas que consideram perigoso ou ao menos um obstáculo irritante o conservadorismo de Bento XVI não vejam ameaças no Presidente da Federação Russa. Se existe um conservador perigoso que seja realmente a) conservador e b) perigoso, esse um é certamente Vladimir Vladimirovich* Putin**.

Ele afirmou em 25 de abril: "Temos de reconhecer que o fim da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século.” Acusado de várias práticas anti-democráticas, ferrenho jogador da Realpolitik, silenciador e opressor da imprensa, beneficiador de oligarquias e nomenklaturas, Putin se revela mais um saudosista da Guerra Fria - à moda de tantos e tantos faficheiros. Em vez do conservadorismo da vida (que é o que o catolicismo is all about, afinal), o conservadorismo do socialismo. Qual é o mais perigoso? Como já dizia o próprio Stálin:

"The Pope? How many divisions has he got?"

Bem, o papa tem uns tantos rapazolas suíços. A Rússia tem 960 mil soldados, gastos militares de 14 bilhões de dólares anuais, seis distritos militares, quatro frotas, 40 mil toneladas de armas químicas e cerca de 8.500 armas nucleares em condições operacionais.

É, esse alemão do Vaticano é mesmo perigoso! ****

E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.

ESTA COLUNA NÃO TERIA SIDO POSSÍVEL SEM A INESTIMÁVEL E SAGRADA WIKIPEDIA, QUE NOS FORNECE OS DADOS DESEJADOS EM POUCOS CLIQUES.


¹ Na verdade, cada observação é formada por (e pressupõe) várias observações. As observações unidas, porém, formam elas mesmas uma observação - da mesma forma que um conjunto de instituições forma uma instituição (conforme Nicholas Onuf).

² Estas frases poderiam ficar muito mais simples de se entender e mais agradáveis de se ler se eu tivesse escrito assim: Descobri uma contradição que existia nos meus próprios pensamentos. Esta descoberta veio de considerações recentes que vieram à luz, principalmente, pela eleição do novo pontífice e pela leitura de certos textos. Dentre esses textos, destaco "O Anúncio da Paixão", de Olavo de Carvalho.

Quanto ao texto, é encontrado em olavodecarvalho.org/semana/050402globo.htm

³ E conforme o Prof. Eduardo Soares Neves Silva, o que valida a lógica é o mesmo que valida a matemática: ou seja, nada :-D

* Parece zoação mas não é. Ele realmente se chama Vladimir Vladimorovich Putin.

** Paródia à recorrente construção: "Se existe alguém que ..., então esse alguém certamente é..."

*** Embora uma certa garota me considere um "católico que ainda não saiu do armário".

**** Se bem que, devido a uma aposta de que o papa seria italiano, perdi dois Reais. Enquanto Putin não arrancou - de mim, ao menos! - até hoje um único centavo. Em termos morxistas de que a economia determina todo o resto, Ratzinger é de fato mais perigoso que Putin!
 

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