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quarta-feira, maio 04, 2005
 

AS JUSTAS AMBIÇÕES

(ao som de Olavo Bilac - "Benedicite")

Fervilhando de idéias. Eis aqui algumas tentativas de desenvolvê-las.

Bendito o que na terra o fogo fez, e o teto
E o que uniu à charrua o boi paciente e amigo;
E o que encontrou a enxada; e o que do chão abjeto,
Fez aos beijos do sol, o oiro brotar, do trigo;

A universidade brasileira vive hoje um mito gravíssimo: o mito da universidade como espaço de debate. Têm-se a noção de que os campi são lugares de discussão e debates aprofundados, entre mentes que compôem a elite intelectual do País - arenas de entrechoques ousados que orientam as ciências e a filosofia nesta modernidade.

Tudo mentira. Baboseira.

A universidade brasileira é marcada, moldada, determinada, orientada, e se pensa e se vê com um único quadro de referências, uma única maneira de entender o mundo: a cultura marxista. Fim de papo.

Eis provas.

Na sexta-feira última, dia 29, assisti na CUP uma palestra sobre o direito trabalhista e a proteção das crianças. A palestrante falava feliz e orgulhosa da lei brasileira, que condena o trabalho para menores de 16 anos. A lei ela considera avançada e moderna, inclusive por estabelecer uma idade maior que a de vários países - na verdade, a maior do mundo.

Fiz a ela uma pergunta. Perguntei se, já que nos Estados Unidos não existe idade mínima para trabalhar, e sendo lá o trabalho visto como forma de aprendizado e amadurecimento ainda em tenra idade, se a lei nossa não passava de demagogia.

Ela respondeu. Da forma mais guevarista possível.

Mantendo a calma e sem vociferar, disse que as leis devem se adequar às realidades sociais de um país. E que os Estados Unidos possuíam uma cultura "capitalista" e "individualista". Ela não explicou porque esses adjetivos eram negativos. Isso ficou como auto-evidente - certamente para ela, e ela com certeza tinha as mesmas expectativas da platéia.

No final, a premissa era simples: a lei deve proteger as crianças do trabalho. Isto não precisava de dicussão, nem mesmo com o exemplo tão gritante da maior economia do mundo não tendo legislação específica para isto. No Brasil o pensamento é este: a realidade (*cof cof*) social deve ser modificada pela criação de leis. Simples. Nada funcional.

Não apenas nossas leis são formuladas por demagogos, mas são apoiadas e têm os valores nos quais se baseiam difundidos e fortalecidos por eles. Não apenas as regras são eles que fazem, mas nossa própria compreensão do que é certo e errado e de como devemos corrigir as coisas estão nas mãos deles.

Mais um exemplo. Hoje, quarta-feira, 4 de maio, auditório Sônia Viegas, UFMG.

Uma longa (e divertida, e bastante frutífera, na verdade) palestra sobre a construção da imagem dos políticos pela Lídia¹. Ao final, perguntas. Espaço para a velha e aporrinhadíssima sessão de pancadas no grande demônio da Lídia brasileira: a Veija. Um professor que até então parecia bastante razoável em suas exposições sobre o papel dos jornalistas nas campanhas eleitorais dispara outra das obviedades burras. A Veija é "capitalista" e "neoliberal". Isto, claro, é ruim. E Carta Capital, apesar de tendenciosa, é boa. Por quê? Porque nos faz a digníssima boa vontade de avisar a todos de sua tendenciosidade!

Ora, se a Veija estampasse com clareza sua orientação política, seria redimida de todos os seus pecados, na visão dos guevaristas? Mas é claro que não! Inda assim, a ética do "dois pesos, duas medidas" permanece uma máxima no quadro de referências da Universidade brasileira.

E isto sem que sequer conteste-se a afirmação de que a Veija tenha uma orientação política at all. Num debate com uma professora de Comunicação no semestre passado, tive a oportunidade de coletar provas concretas contra várias das teses de Bernardo Kucinski, guevarista-mor que posa de investigador sério do jornalismo. Uma delas é a de que a Lídia brasileira é de direita. Sem nenhuma dificuldade, posso coletar várias contra-provas que flagram a onipresença esmagadora do coletivismo, pró-MSTismo, abortismo, anti-republicanismo, anti-americanismo e anti-liberalismo como se fossem as posições mais naturais e equilibradas do espectro político. Mas é claro, não fui levado muito a sério. Todos sabem que a Lídia é de direita e dominada por oligarquias malignas; isto é um fato absolutamente incontestável e quem for do contra é ou 1) louco ou 2) reacionário. Provavelmente, é também nazista. Que todos aceitam como sendo da direita. É fato, não precisa de contestação.

Contestar é afirmar soluções do sécuo XIX e lutar contra "tudo que está aí". Ser crítico é ler Caros Amigos e Carta Capital. E ser universitário é poder participar do maravilhoso mundo dos debates aprofundados.

E o que o ferro forjou; e o piedoso arquiteto
Que ideou, depois do berço e do lar, o jazigo;
E o que os fios urdiu e o que achou o alfabeto;
E o que deu uma esmola ao primeiro mendigo;

Vi semelhanças, no filme A Intéprete, com a história do Zimbábue. A película conta com um ditador e país fictícios da África (um tal Edmond Zuwanie, duma tal República do Matobo), mas o jeito da coisa toda me lembrava a nação zimbabuense. ´Zoaram de mim.

Não deu outra. No Manhattan Connection do dia seguinte Lucas Mendes e Caio Blinder falaram sobre o filme ser caricatura / referência ao Zimbábue. E na mais sacra Wikipedia, vemos mais paralelos que fortalecem essa intenção. Diz-se que até o brasão da embaixada de Matobo foi baseado no brasão do Zimbábue. Ora, isso é verdade, eu lembro no filme de ver um pássaro no brasão da embaixada - e de fato é uma ave mui semelhante à criatura amarela que se encontra na bandeira zimbabuense.

Infelizmente, não há ainda nem sinal de que Robert Gabriel Mugabe, vilão sanguinário, persona non grata na União Européia, destruidor da liberdade expressão, massacrador da produção agrária, revanchista insano, primeiro e até agora único Presidente do Zimbábue, seja levado à Corte Internacional.

E o que soltou ao mar a quilha, e ao vento o pano,
E o que inventou o canto e o que criou a lira,
E o que domou o raio e o que alçou o aeroplano...

Tenho uma idéia boa, mas fica pra começar o próximo post. Quero impacto nela.

Mas bendito entre os mais o que no dó profundo,
Descobriu a Esperança, a divina mentira,
Dando ao homem o dom de suportar o mundo!



¹ Para os que ainda não conhecem: Lídia é minha maneira de substituir uma das palavras mais lugar-comum do mundo, aquele bode expiatório que nos ensinam no Ensino Médio. Recuso-me a escrever essa palavra, que rima com "Lídia" mas começa com "m".
 

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