NO BRASIL ATÉ O MARIMBONDO TEM CASAFaltando umas oitenta horas para mergulhar de cabeça na Guerra Fria - mais especificamente no comecinho dela, ainda em 1948 - começo a me preparar. Hoje digitei numa máquina de escrever que tem aqui em casa e falei a palavra "mimeógrafo" várias vezes.
Esclarecendo pela octogésima vez uma das perguntas que mais recebi nos últimos tempos ("o que você vai fazer no TEMAS mesmo?") : sou Diretor-Assistente do Conselho de Segurança. Onze países decidindo o destino da Alemanha e do mundo. E uma das pessoas na mesa foi advertida incansáveis vezes para não ser excessivamente engraçado. Quem serei?
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Mas esse negócio de falar que sou Diretor-Assistente do Conselho é meio sem sentido¹, porque invariavelmente a pessoa lança um "ah" fingindo que entendeu ou ainda fala "entendi, é um
zenínguem²".
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Uma coisa que as pessoas ficam falando é o tal do
jeitinho brasileiro.
Quando fazem mais uma das intermináveis e enjoadíssimas pesquisas sobre identidade nacional - perguntando a brasileiros o que eles mesmo imaginam que são - sempre tem a adolescente decotada de óculos escuros dizendo "ah, dá sempre um jeitinho nas coisas..." e outras coisas do gênero³.
O jeitinho brasileiro, a maneira
ischperta e malandra de resolver problemas, é um dos mais mais ridículos mitos que existem. Como todos sabem, a principal faceta da inteligência é a capacidade de resolver problemas; e se fôssemos assim um povo com tanta perícia nessa capacidade, não seríamos tão atrasados em termos de desenvolvimento, tão entravados economicamente nem tão assolados pela criminalidade.
Se tivéssemos jeitinho brasileiro, teríamos resolvido nossas diferenças com o Paraguai de outra forma que não massacrando-os aos milhares. (aliás, isso é ponto para outro texto: a Guerra do Paraguai - massacre sanguinário e sanguinolento - não criou nem de longe uma imagem dos paraguaios como "coitadinhos", como acontece com certos povos oprimidos nas páginas da História; e é tão esquecida e desprezada que nem mesmo os anti-imperialistas anti-americanos
brasileiros se preocupam com ela). A não ser claro, para a escola realista de Internações Relacionais - mas isto é discussão para os mais entendidos, ou, ao menos, para um texto mais longo e didático; o que está, claro, perfeitamente dentro de meu alcance, mas não de minha paciência ou inspiração
de (e não
para) hoje.
Se tivéssemos jeitinho brasileiro, não teríamos esses milhares de homicídios por ano, que nos colocam como país mais violento do mundo, superando mesmo países em guerra e os
terranínguens.
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Eu ´tava nesse restaurante em Manaus, e
couldn´t help but overhear um cara dizendo que não lia blogs. Que era uma coisa ridícula, "ai, hoje eu acordei e fulano não sei o quê", etc. Que não perdia o tempo dele com blogs. E tudo o mais.
Logo depois ele falou que adorava o Kibeloco.
Sorri.
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E como eu ´tava louco* pra chegar em Bê Agá, assim que o avião arranhou o solo, levantei as mãos para o céu.
Um braço me tocou. Era o passageiro do lado que me perguntou:
"Ôu, tudo bem aí?"
¹
Eu poderia ter dito "uma coisa meio sem sentido", mas estou cortando palavras. Sou rápido. Econômico. Eficiente. ²
Sim, é paroxítona mesmo. Como "terranínguem", logo adiante.³
Eita clichê. Só faltava ser "outras sandices do gênero", aí seria clichê plus.*
Com o perdão do Jamanta. OK, eu estava doido.
Peixes: