NOVAS E EXTRAORDINÁRIAS AVENTURAS
Ao som de The Beatles - Help! ¹
Com novembro no fim, e dezembro ("bem me lembro! bem me lembro!", diria Machado de Assis em sua tradução de
O Corvo) conseqüente e inevitavelmente próximo, chegam várias coisas. Mais chuvas. Milagres de Natal. Cedê andando de ônibus e observando o ambiente, achando-se muito o poeta e tirando conclusões sobre a beleza de cada detalhe que vê, como se fosse o único gênio a perceber incríveis e maravilhosos detalhes em momentos cotidianos que na verdade nunca mais se repetirão. Ah, não - isso acontece todos os meses. Deve haver outra coisa que é típica de fim de ano...
Ah sim: notas de final de semestre! Ei-las!
FILOSOFIA II 89
GEOGRAFIA POLÍTICA I 95
HISTÓRIA DAS INTERNAÇÕES RELACIONAIS II 78
MICROECONOMIA 60
PLANO DE INVESTIGAÇÃO II 82
SOCIOLOGIA II 94,5
TEORIA DAS INTERNAÇÕES RELACIONAIS I 93
GRÀND TOTAL 591,5 / 700
MÉDIA 84, 5%
DE 0 A 5 4,225
O aproveitamento é ligeiramente
menor que o do semestre anterior (86,28%).
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Obviamente, estamos aqui por outros motivos que não as notas. Elas foram publicadas por tradição - afinal, figuram nos arquivos de junho deste ano. Mas vamos às idéias que (imagino) fazem vocês visitarem o DOIDIMAIS CORPORATION.
Como todos sabem, vivemos numa cultura hedonista.
Muito hedonista. Não que eu reclame. Não vou ser desses fessores retardados papagaios guevaristas de Humanas que acham que isso é um absurdo, e só faltam sugerir o regresso à Idade da Pedra e ao "socialismo primitivo". Vocês sabem, esses tipinhos imbecis que acrescentam "social" a tudo quanto é palavra. Justiça social, escola social, comunicação social, responsabilidade social, sociedade social, blábláblá.
Mas continuando. Daí que vivemos numa sociedade hedonista. É pecado
mortal cortar a onda! Roubar doces e cerveja de supermercados, urinar nos prédios e calçadas, andar na rua acordando a vizinhança, bater rachas pondo em risco a vida de motoristas que não tem nada a ver, ouvir música altas horas da noite a volumes altíssimos, trocar carinhos com pessoas que tem namorado(a), tudo isso pode. Sem nenhuma punição.
Mas interromper alguém que curte uma
viagem de drogas diversas, recusar-se a oferecer fogo ou cigarros a quem pede (os tendo, claro), derramar bebida alcoólica, entrar de supetão em um quarto trancado - são
tabus inquebráveis! Ao contrário de antigos tabus - tipo sexo antes do casamento - NINGUÉM os faz, a não ser por acidente.
Vivemos numa cultura super-valorizadora da
viagem induzida por drogas ou álcool. - mas eis a contradição.
Se a viagem for
natural, ela é mal-vista. Todo mundo constantemente solta o "Nó! Viajou!", como se fosse algo negativo. Bacharelandos em Filosofia são tratadados como "colocadores de pêlo em ovo" que "discutem o sexo dos anjos" (ouvi essa HOJE! de uma aluna da FAFICH!). Existem várias - muitas mesmo! - expressões pejorativas para
viagem, muitas delas envolvendo maionese. Que, como todos sabem, é outra invenção humana totalmente subestimada (junto com a maior invenção do século XX: o bebedouro!), e tratada pejorativamente. Mas isso é outra história.
A questão é: nesta nossa cultura, viajar é recriminado
. A menos que seja sob o efeito de drogas. Aí é legal.
Que cultura inteligente essa nossa!
***
A Internet acabou com nosso tempo de concentração. A qualquer momento haverá alguém online para conversar. Não alguém numa sala de bate-papo, não é dessas atrocidades que falo. Haverá sempre alguém CONHECIDO no MSN e/ou ICQ para puxar papo. É como ter um telefone que não pára de tocar nunca. NUNCA.
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Inglês é complicado:
"how competition from established great powers combined with challenges from rising great powers to diminish Britain´s relative power and erode its primacy".
Demorei para entender. Tive de ler várias vezes. até perceber que deveria ler combined como "combinaram-se", e não "combinaram com", como é minha expectativa ao ler uma frase dessas. Inglês complica justamente por ser muito simples.
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Eu sempre terminei as campanhas de D&D ² que eu mestrava com uma frase que envolvia "e novas e extraordinárias aventuras" que aguardavam os heróis ou coisa do gênero.
Eu tenho isso, de frases que sempre uso em determinadas ocasiões.
"Representantes do mundo!"
"Na última sessão de jogo, extraordinários eventos aconteceram..."
"Olha quem tá aqui!"
"´Scuze me?"
et cetera.
Outra coisa que faço constantemente é imaginar a vida como um grande seriado. O que além de gerar muitas oportunidades de piadas (as quais meus amigos também não hesitam em fazer) promove frases narrativas. O
novas e extraordinárias aventuras soa extremamente adequado aqui. Estou de férias de uma das faculdades, e meu primeiro ano no terceiro grau está chegando ao fim. Nunca num único ano
conheci de fato tanta gente, e nunca minhas perspectivas foram alteradas pelo mero fato de conhecer pessoas.
Dá quase para visualizar o narrador acrescentando: " e novas e extraordinárias aventuras..."
¹
Já que não dá mais para ser She Loves You
:-/ ...
²
Ou CD&D, no caso.
Peixes: