NOS BASTIDORES
Ninguém jamais compreenderá por completo alguma coisa até escarafunchar seus bastidores. Não estou falando de paranóias bobas ou de tentar adivinhar o que alguém quis dizer com determinada ação ou frase¹- muitas vezes, o recado é aquele mesmo que está na cara. Procurar intenções ocultas nos escritos de Maquiavel, nas obras de da Vinci, nos textos bíblicos ou nas fotos de Paul McCartney é uma grande besteira, até prova em contrário - isto é, dissertações bem fundamentadas cheias de comprovações e embasamento.
O que quero dizer é que muitas vezes não percebemos o gigantesco trabalho que está por trás de algo aparentemente simples. Não direi aqui que fato recente me chamou atenção para isso, visto que ainda está válido a regra de que o DOIDIMAIS CORPORATION não é um diário.
Voltando de certa maneira ao assunto, acho muito errado o fato das escolas ensinarem Diogo Mainardi² com ênfase tão pesada na ironia. Taxar Mainardi de irônico, e mais nada, é excluir totalmente a possibilidade de que alguém possa pensar daquele jeito. Algo muito negativo, já que o colunista ítalo-brasileiro³ é um dos poucos que estão "do outro lado" no pensamento contemporâneo neste país*. É realmente muito confortável achar que tudo o que ele diz não passa de uma grande inversão do que ele realmente pensa - e nenhuma escola deveria ensinar a seus alunos a se confortarem com o pensamento. Infelizmente, é o que acontece, e este país só será feliz no dia em que abrirem uma Chapa Estudantil Ronald Reagan ou um Grêmio Adam Smith - algo que, de tão absurdo que soa, serve como sintoma da unilateralidade de pensamento, que fortalece a estagnação e a burrice generalizada.
Não se trata aqui de defender Reagan ou Smith. Falo de defender o debate, a oposição. Quando todos, invariavelmente, acham normal a camiseta do Che Guevara ao mesmo tempo que achariam absurdo alguém usar uma do, digamos, George Washington, estamos imersos num raio de mundo onde todos pensam igual. E isso é de enjoar.
Mas claro, os verdadeiros intelectuais que lerem isto verão nestas linhas uma apologia à direita e um apoio inconteste ao grande Castelo Branco. E eu ficarei na mesma, admirando o fascinante mundo dos bastidores.
¹
O "ou" é inadequado - frases não deixam de ser ações.
²
Quando seu nome e sobrenome se seguirem ao verbo ensinar, terás obtido grande reconhecimento. Ensinar Machado de Assis, ensinar Olavo Bilac...
³
Nome politicamente correto - assim como Gisele Bündchen deverá sempre ser referida como teuto-brasileira (e que teutas!)
*
Saborosíssimas de pronunciar as palavras neste país
são.
Peixes: