PICASSO
Esta tela do orkut¹, com seus olhos aqui e boca lá, me lembra um quadro de Picasso.
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Hoje eu tive umas três ou quatro idéias para textos que se esvaíram no ar. Duas vingaram. Ei-las.
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Não há melhor gerador aleatório de personagens do que um ônibus. Não falo, claro, desses onibus democráticos que pegam praticamente as mesmas pessoas todos os dias num mesmo horário. Falo de algo tipo o 4111 às 20:30 de uma terça-feira.
Diria qualquer um mais esperto que é realmente muito fácil chamar de aleatório um dado ônibus num dado horário num dado dia da semana ao mesmo tempo que se considera não-aleatória toda uma linha de ônibus num mesmo horário durante toda a semana. Essa fala, que como disse poderia vir de qualquer espertalhão, é, com ênfase², fundamentada. Não é justo comparar a aleatoriedade de um com o outro - da mesma maneira que não têm significado dizer que o quitandeiro rival vende frutas mais azedas que as suas, sendo que ele vende limões e você tangerinas. (aliás, este estilo de escrita e apresentação de idéias, combinado com o uso de uma metáfora bem gráfica, foi-me e continuará sendo herdado pela leitura de textos de Internações Relacionais)
Não obstante, é fascinante a diversidade de pessoas que circulam dentro de um 4111 em uma de suas (sempre muito, muito) longas viagens. Todos os níveis de renda, bairros de moradia, graus de beleza física, níveis de escolaridade, faixas etárias, enfim - tudo encontra-se representado sem um mínimo padrão discernível, sem respeitar nenhuma proporcionalidade que venha à mente, numa extraordinária vitrine de todas as formas que um ser humano pode vir a assumir. Um
caleidoscópio (perdoem-me o lugar-comum, fui influenciado pela famosa música dos Beatles) de incrível dinamicidade.
Se algum dia a TSR me contratar para fazer uma tabela com o título
Random NPC Generator para o D20 Modern, estejam certos de que a farei o mais perfeita possível - usando um ônibus como meu único laboratório.
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Se uma questão é polêmica ou não, depende do meio em que está inserida. Em uma tribo de indígenas brasileiros, como mostrado recentemente pela
Superinteressante, é uso que os garotos iniciem sua vida sexual com as sogras, para somente então partirem para cima³ de suas esposas - e não raro continuam mantendo relações com as duas.
Se algo do tipo acontece com uma família belorizontina conhecida nossa, não concebo a totalidade das repercussões do escândalo ulterior.
Da mesma forma, ao contrário do que pensam certos cabeça-duras por aí, o que é "óbvio" ou não depende totalmente do meio. Se algo que é óbvio para nós não o é para outrem (que tapados!), com a mesma facilidade algo que é óbvio para eles pode não o ser para nós (que perversos!).
Estas simples e
óbvias (ha!) considerações, que qualquer um fará bem em sempre levar no bolso, não excluem a possibilidade de se considerar algumas culturas superiores a outras - nem, por outro lado, toma essa possibilidade como pressuposto (olha que título de livro isso não daria,
Possibilidades e Pressupostos).
¹
Ressaltando que orkut escreve-se sempre com minúsculas, justamente por ser nome próprio (!), lembro que a tela está desatualizada e atualmente tenho 67 amigos no orkut. Se eu ganhasse um centavo para cada amigo, bem, dava pra comprar lápis e clipes. Falando nisso, faz algumas semanas que o orkut alcançou um milhão de usuários: plugue-se nele violentamente e irá ultrapassar a famosa ambição de Roberto Carlos.
²
Usei "com ênfase" e não "de fato" pelo mesmo motivo que já hesito em usar "em verdade" - assume-se que afinal estou falando a verdade, não existem expressões como "em mentira" ou "fora de fato".
³
Um árduo defensor da igualdade de valor entre todas as culturas, paladino dos fracos e oprimidos e adorador da burca e da extirpação de clitóris, logo diria que a expressão "partirem para cima" é ofensiva, alegando que eu não a usaria em se tratando de membros da minha
cultura. Está, nesse ponto, certíssimo - eu usaria termos muito, muito mais chulos.
Peixes: