OS TEMPOS MODERNOS DA INFINITA HIGHWAY
Ao som de Engenheiros do Hawaii e Lulu Santos
Vi há alguns meses perto da PUC, e mais recentemente também ali na fronteira entre o Sion e o Belvedere¹, um
outdoor de um tal Jairo Ataíde, político que se orgulha de sua aprovação em Montes Claros. O
outdoor apareceu perto da PUC muitos meses antes das eleições, o que é obviamente contraditório com a noção de que o brasileiro tem memória curta para assuntos políticos. Portanto, o que fazia ali a propaganda? Levanto quatro hipóteses: 1) a memoria curta é um mito; 2) o ego do prefeito é imenso; 3) na região tem um monte de gente que vota em Montes Claros; 4) o cara pretende se candidatar a prefeito de BH.
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Quando eu comecei a estudar Internações Relacionais e descobri a noção de que as democracias nunca entram em guerra
entre si, achei muito legal e fiquei muito feliz. Esta idéia é exposta claramente na Primeira e na Segunda Guerra Mundial (nas quais os
vilões, que afinal perderam a guerra, eram todos não-democráticos, tendo sido derrotados por um misto de democracias e seus aliados). Só que um dia eu li um artigo científico que desmentia essa noção. Vários exemplos de conflitos entre democracias foram dados. Sem falar que a significância da afirmativa foi posta em xeque, visto que quando a América do Sul era ainda mais anti-democrática do que hoje, ainda assim não explodíamos em guerras. Em termos de conflitos entre Estados, somos a região mais pacífica do mundo; nem por isso somos a mais democrática.
Ou seja, ainda que as democracias não entrem em guerra, isso não significa nada, porque as não-democracias sul-americanas também não entram. Deixando mais claro: se as democracias não entram em guerra, não é simplesmente por serem democracias.
Eu acabei bolando a idéia para um texto que dizia que a solução para a defesa e integridade do Brasil era o fortalecimento da democracia. Assim, caso fôssemos atacados algum dia, poderíamos recorrer a nossos aliados democráticos, visto que o ataque jamais poderia vir de democracias (leia-se, teoria do senso comum com aceitação surpreendentemente grande segundo a qual os EUA irão atacar o Brasil em breve pelos recursos naturais).
É claro, minha preguiça impediu que eu escrevesse o texto até eu acabar lendo o artigo e mudado de idéia. Nunca subestime o bem que a hesitação pode fazer.
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Vivem dizendo que é um perigo confundir realidade com ficção. Discordo. Perigo muito maior está em confundir ficção com ficção. Por exemplo, se você jogar um determinado jogo eletrônico durante muito tempo, e depois for jogar outro com controles parecidos mas ligeiramente diferentes, vai ter sérios problemas. Manobras simples podem ser desfeitas por um único toque errado de botões; um inimigo que poderia ser morto com três disparos agora requer dez ou mais tiros; uma corrida que poderia ser terminada em seis minutos agora leva oito e ainda te deixa em terceiro lugar.
Sem falar em outras confusões de ficção com ficção. Imagine se na sua cabeça se misturassem os enredos de
Hamlet e
Friends. O quê, o Central Perk não fica na Dinamarca? O Hamlet não tem uma irmã obcecada com limpeza? A tia do príncipe não tinha uma voz anasalada?
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Para os leitores de fora de Belo Horizonte, se é que hão: Sion e Belvedere são bairros desta cidade.
Peixes: