LIKE YOU´RE ALWAYS IN THE SECOND GEAR
Após quase uma semana em Brasília brincando de diplomata, estou de volta a minha cidade natal, aquela que faz o
fugere urben não ter sentido algum.
Obviamente, tenho várias histórias para contar, e aqui vão algumas delas. Espero que assim eu consiga reaquecer o blog, que sempre recebia pelo menos uns 4 comentários em cada post (chegando a 8, 10 e até mesmo mais de 20), e nos dois últimos recebeu apenas 1. Claro, não faço isto pelos comentários em si; mas eles são - até certo um ponto - um termômetro do quanto o DOIDIMAIS CORPORATION agrada aos leitores.
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A idéia de se ter um hotel que é ao mesmo tempo onde se dorme e também onde acontece o evento é sensacional. Basta pegar o elevador para se chegar às salas onde se realizam os debates. Mais prático impossível.
O hotel também é legalzinho. Dá pra perturbar os hóspedes fazendo bagunça na piscina, pegar sauna, tocar na campainha de outros quartos e fugir enquanto outras pessoas ligam para o telefone do mesmo quarto, realizar festas que vão até às 3:40 da manhã, e outras coisas mais. Sem falar nas festas oficiais do evento, com destaque para a primeira delas, na qual delegações de cada país (Chile incluído, claro) ofereciam mesas com comida e bebidas típicas - além de outros itens, como incluir bandeiras, poesias, música, e vestir fantasias. Muito embora a delegação chilena tenha exibido maior animação (evidentemente sou suspeito para falar¹), o prêmio foi para a delegação do Brasil, que vestia roupas como a de cangaceiro. É claro que a delegada do Brasil no meu comitê, uma potiguar, irá discordar, sorrindo, quando eu disser que eles mereciam o segundo lugar.
Then again, apenas um dos delegados do Chile estava vestido de alguma coisa que lembrasse mais ou menos um chileno - calça jeans, camisa vermelha - e uma bandeira do Chile nas costas.
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"Delegado da Argentina, você tem a palavra por 90 segundos". Silêncio. O delegado da Argentina se dirige ao meio da sala. Olha para os outros delegados. Em silêncio. O diretor ativa o cronômetro. O silêncio continua. O delegado da Argentina permanece parado. Os delegados começam a sorrir. O silêncio persiste.
"Point of personal privilege!", interrompe o delegado da China. "I can´t hear the delegate!"²
Gargalhada geral, intensa. O diretor da mesa afirma que os delegados podem usar o tempo da maneira que bem entenderem - e reinicia o tempo do delegado. Após novos segundos de silêncio e novos sorrisos, brada o delegado da Argentina:
"This silence represents what we have accomplished in this committee!", diz, fazendo um gesto largo. "Nothing!"
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"Representatives of the world!"³ - assim todos os delegados e delegadas (e até algumas delegatas) do meu comitê me cumprimentavam, fosse durante os debates não-moderados dentro da sala, fosse durante as festas ou nos corredores do hotel. É bom saber que a frase, com a qual abri
todos os meus discursos, despertou simpatia. Algumas pessoas disseram inclusive que vão usá-la, com a devida homenagem e menção de autoria. Menos repetida, mas também lembrada, foi a frase de fechamento de
todos os discursos, copiada por alguns dos delegados da minha equipe:
"Chilean Cheers!"
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Evidentemente, existem ainda mais histórias para contar, mas dariam um texto por demais longo. Novos casos serão adicionados se os leitores assim pedirem. Por ora, descanso das doze horas de viagem de ônibus e da chegada em casa após 1 da manhã. Vida longa ao AMUN, e que venha a oitava edição!
¹
Eu era um dos delegados do Chile, mas, citando a mim mesmo: "eu nunca consegui apreender o conceito de “suspeito para falar”. Sempre considerei que todos somos suspeitos para falar de qualquer coisa – devemos ser desconfiados e críticos não importa quem esteja falando, ou a respeito de quê. Se sou suspeito para falar a respeito [de um assunto], também o são todas as pessoas da Terra".
²
Em modelos da ONU, a única coisa que pode interromper o discurso de um delegado é a questão de privilégio pessoal, levantada quando se sofre extremo desconforto, e usada 90% das vezes quando o delegado está falando muito baixo e não se consegue escutá-lo - e 10% das vezes para reclamar do ar condicionado.
³
E não "representants", palavra que, amigos me avisaram e eu conferi no dicionário, não existe.
Peixes: