MOVING ON, MOVING ON*
Deveria ter contado antes. Na sexta-feira, como em todas as vésperas de férias, a primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi abrir a janela do meu quarto e berrar:
FÉÉÉÉRIAS!
É uma de minhas tradições favoritas. Falando em tradições, imagino se não é uma tradição moderna a senha do cartão de crédito em uma família. Imagino que os filhos, por costume, usem a mesma senha de cartão de crédito de seus pais. Assim, a
sociedade capitalista de informação e consumo pós-moderna contemporânea** criou uma tradição para si que bem, é a sua cara.
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Povos do mundo! É revoltante a existência do crime mais atroz da Humanidade: o desperdício. Desperdiça-se de tudo. Patê de presunto, chocolates, pães, gelatina, sorvete, papel, canetas, lápis (mísera! nossos queridos lápis!), tinta, enfim, o que convir ao descaso dos donos.
É por isso que eu os conclamo (
pausa dramática) a vencer este grande mal. Unamo-nos! Tornemos-nos todos os paladinos dessa vitória triunfal que se anuncia contra o desperdício!
Toque no interfone da casa de seu amigo quando ele não estiver esperando, e assalte a geladeira dele! Vá a seu quarto e tome algumas canetas! Em dia de folga, vá a sua empresa e pegue alguns blocos de anotações! Entre em padarias e discretamente engula alguns dos petiscos menos populares! Vista um casaco de pescador e vá a uma farmácia, colocando dezenas de itens pequenos em seus muitos bolsos! Auto-convide-se para festas! Eia, pelo bem da Humanidade, eia!
Folgados de todo o mundo, uni-vos!
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A Segunda Guerra Mundial esteve em minha cabeça recentemente, como deve acontecer com todo bom aluno de Internações Relacionais***. Nada mais natural, portanto, do que eu compôr uma marcha militar satírica enquanto tomava banho. Aliás, já compûs muitas músicas totalmente inéditas durante o banho. Várias, perdidas para todo o sempre - outras tantas, muito ruins. Aqui vai esta, que é uma das melhorzinhas que tá tendo. Tentem imaginar, leitores, um único oficial berrando as linhas ímpares, ao passo de que todo o batalhão cuida dos versos pares.
Se o General vier berrando
Vou matar um italiano
Se o General disser que não
Vou matar um alemão
Se o General berrar outra vez
Lá se vai um japonês
Tem também a versão do Eixo:
Se o General coçar o sovaco
Vou matar um eslovaco
Se o General ficar caquético
Vou matar um soviético
Mas se o General ficar doidão
Vou matar um suíço!
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Minha superação do que aconteceu recentemente é fechada com chave de ouro por - quem mais - Olavo Bilac. Por coincidência, comprei hoje um livro dele, e folheando, achei isto na página 116:
DESTERRO
- Olavo Bilac
"
Já me não amas? Basta! Irei, triste, e exilado
Do meu primeiro amor para outro amor, sozinho...
Adeus, carne cheirosa! Adeus, primeiro ninho
Do meu delírio! Adeus, belo corpo adorado!
Em ti, como num vale, adormeci deitado,
No meu sonho de amor, em meio do caminho...
Beijo-te inda uma vez, num último carinho,
Como quem vai sair da pátria desterrado...
Adeus, corpo gentil, pátria do meu desejo!
Berço em que se emplumou meu primeiro idílio,
Terra em que floresceu o meu primeiro beijo!
Adeus! Esse outro amor há de amargar-me tanto
Como o pão que se come entre estranhos, no exílio,
Amassado com fel e embebido de pranto..."
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Refrão de uma música eletrônica cujo título desconheço.
**
Bordões esquerdistas.
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Como todo bom leitor sabe, em momento nenhum esta afirmativa ME qualifica como bom aluno.
Peixes: