EXAGERADO...
Muitos textos não vão direto ao assunto. Eles hesitam. Dão uma engambelada antes de partir para as idéias. Um preâmbulo. Uma introdução antes da introdução, um prefácio antes do prefácio. A enrolação primordial.
São aqueles textos que terminam seus primeiros parágrafos com "senão, vejamos". Ou ainda, "sem mais, blábláblá." Sendo que o
blábláblá pode ser
vamos ao assunto,
lancemos-nos ao objetivo desta, ou
explico-me.
A enrolação, ao contrário do que acredita o senso comum, não é uma coisa ruim (na verdade, uma de minhas atividades favoritas é denunciar as terríveis falácias do senso comum - não aquelas monstruosidades óbvias - mas aquelas que passam despercebidas, que usamos em nossas conversas do dia-a-dia, e que, de repente, a inspiração me faz perceber o quão são perigosas).
A enrolação, é muitas vezes, a força motriz do pensamento. A faísca do encadeamento de idéias que virá a seguir. Com efeito, a enrolação é muitas vezes a mera reapresentação do que o autor estava pensando no momento em que teve a idéia. Se muitas vezes as idéias nos atingem de supetão, no meio de uma atividade que pouco nos exige do pensamento e portanto pouco ou nada tem a ver com o que estávamos fazendo¹, muitas vezes ela nos vêm quando estamos refletindo sobre algo, e a idéia, linda, nova, fresquinha, nos aparece como corolário daquele pensamento, como os frutos emergem naturalmente das flores. E é natural que esse pensamento que deu origem à idéia seja apresentado em um texto - sob a forma de enrolação no primeiro parágrafo.
Não pode haver jamais um "processo criativo", nem uma idéia que surge forçada. As idéias vem naturalmente. Que há idéias que surgem sob pressão, é inegável - mas essa pressão é necessariamente externa. Ninguém pode se forçar a ter uma idéia. Ou melhor, pode, mas não vai ter. Idéias não podem ser construídas. Elas são, necessariamente, impulsos.
É claro que há meios de favorecer o surgimento de impulsos novos. Expor-se a cultura é um deles. Ler, ver filmes, conversar, conhecer pessoas novas, debater.( Tenho uma analogia terrível para isto, a qual deixarei para o pé de página para não poluir o texto com mais um cedeísmo²). Mas também é preciso escrever. O
feedback que tenho recebido no DOIDIMAIS CORPORATION vêm fortalecendo a tese de que quanto mais se escreve, mais idéias se têm. A visualização das idéias, em papel ou na tela, exige uma organização do que está na cabeça e induz a um encadeamento de umas coisas nas outras. Mas este processo não é como construir partes de um prédio na cabeça e depois encaixá-las nos lugares certos. É mais como o lento tecimento de uma teia, na qual vamos descobrindo que o toque num ponto faz um outro, muito distante, tremer.
O processo é lento, sempre incompleto, e cheio de falhas. Mas é uma das coisas mais emocionantes que se pode experimentar.
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Fui hoje ao cinema com alguns bons amigos assistir a
Cazuza - O Tempo Não Pára. É divertido. Na última vez em que fui assistir a um filme brasileiro na sala 6 do Bê Agá, foi numa ocasião bem diferente. Mas estes tempos se foram agora; e queira o Destino que no futuro não deixem mais a saudade que hoje impôem.
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Gente, não tem mulher mais bonita do que a vocalista do Black Eyed Peas. O quê que é aquilo!
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E se alguém me chamar de Artur Xexéo, eu cuspo.
¹
Um bom exemplo disto está em meu texto "A Solução", disponível neste site. Tive a idéia enquanto lia Harry Potter e a Ordem da Fênix.
²
Basicamente: a mente é como um liqüidificador. Podemos colocar todos nós os mesmos ingredientes, já que estão no supermercado o leite, as frutas, et cetera. Mas cada um tem um liqüidificador diferente.
Peixes: