O texo a seguir foi escrito em janeiro deste ano, mas nunca foi publicado em lugar algum. Eu deveria tê-lo discursado no meu aniversário mas não o fiz. Que seja, aí segue.
MEU DÉCIMO-OITAVO ANIVERSÁRIO
- Frederico “Cedê” Silva
doidimaiscorporation@bol.com.br
Meus caros amigos e amigas,
O problema neste mundo são os adultos. Não há dúvidas: enquanto nós jovens vivemos num belo e pacífico hedonismo, curtindo nossas festas de quinze anos, nossas partidas de War, nossos joguinhos de computador, nossas idas ao
pê para jogar bola com os vizinhos, nossas experiências com o
verdade ou conseqüência e outras coisas inocentes, os adultos fabricam armas, se embrenham nos desfiladeiros estressantes do trânsito, entram em guerras, falam mal uns dos outros, competem sem ética por empregos, publicam a
Capricho e praticam outras coisas malignas.
Os adultos são os nossos mais terríveis inimigos. Sim, é certo que dependemos do trabalho deles - para construírem os lugares aonde vamos, termos uma força policial que combate o crime, médicos para nos salvarem de nossas eventuais overdoses, profissionais que fazem a comida e a bebida e as outras coisas que consumimos, et cetera. Dependemos dos impostos pagos pelos adultos para a pavimentação das ruas, a iluminação dos postes, o mantimento dos garis e outras coisas essenciais.
Mas claro que toda essa dependência não pode ser boa. Os adultos são criaturas vis! Por gerações e mais gerações, os adultos poluíram os rios, infestaram o ar de gases, queimaram as árvores, geraram dívidas gigantescas, inventaram planos econômicos estúpidos, promoveram guerras e ódio entre povos, e encheram a cultura de porcarias – Menudos, Paulo Coelho, Celine Dion, Guimarães Rosa, blargh!
E como se não bastasse os adultos nos forçarem a aceitar sua cultura de mal gosto, promovendo leituras obrigatórias de livros chatos nas escolas, eles ainda tentam nos passar uma imagem de heróis! Sim, meus caros amigos e amigas, já repararam como eles tentam passar a impressão de que durante a Segunda Ditadura (1964-1985) TODOS ELES “lutaram bravamente” contra os milicos reaças? Até parece! Não sei como eles arranjavam tempo para, a uma só época, beber, usar drogas, cursar a faculdade, acumular todas aqueles histórias que eles vivem nos contando de novo e de novo, lutar contra as forças do Mal, e ainda por cima fazer um sexozinho – para ter a nós, é claro.
Temo que, daqui a algum tempo, quando estiver reinando uma geração mais recente de adultos, o impeachment de Collor será gloriosamente exaltado como uma “batalha árdua e sem esperanças contra o imperialismo Collorido, na qual “nós”, ainda com sangue jovem correndo nas veias e ouvindo muito Legião Urbana e assistindo muito Programa Livre, lutamos contra o império de P.C. e Dinda”. Não tenho dúvidas que a batalha será comparada ao ataque liderado por Aragorn às forças do Lorde Sauron.
(Afinal de contas, Collor disse ter o seu
Um Anel roxo.)
E além de tudo isso, os adultos teimam em dizer que somente os jovens conseguem empregos hoje em dia, esquecendo-se que os CEOs e diretores e o diabo a quatro são todos velhos. Ou seja, quem contrata os jovens são os miseráveis dos adultos, e eles ainda arrumam jeito de reclamar e sair com cara de coitadinhos.
Juro... bem, não juro.
Afirmo que fiz tudo o que pude para combater a tirania dos adultos. Tentei entrar na faculdade antes de completar o 2º grau; mesmo passando no vestibular, não me deixaram entrar. Pensei em me candidatar a um cargo público, mas a idade é discriminatoriamente usada para eliminar os jovens da política. Para se candidatar a presidente da República é necessário ter no mínimo – pasmem!- 35 anos. Até mandei meu currículo para a ONU – e aguardo resposta até hoje. Tentei votar, inclusive e... ah, isso me deixaram fazer. Mas votar não adianta nada.
Para me embrenhar na cultura dos inimigos, consultei as tais revistas e filmes ditos “adultos” - unicamente com o propósito de pesquisa, claro. Não serviu pra muita coisa.
Em suma, não tenho muitas esperanças de acabar com a tirania dos adultos. O único exemplo bem-sucedido que me ocorre agora é o de Joana d´Arc, que liderou o exército da França aos dezessete anos. Um apontamento: era o exército da França (ora, convenhamos). E outro: ela foi executada na fogueira aos dezenenove. Morreu adulta, a miserável.
E o pior de tudo:
completo dezoito anos neste 21 de janeiro de 2004. Torno-me, até certo ponto, um adulto. Portanto, amigos e amigas, acredito que terei de deixar a missão de derrubar os velhos com vocês- que ainda são jovens. Na melhor tradição adulta, deixo com descaso todos os problemas causados pela minha geração, e jogo a bomba na mão dos mais novos. É assim há milênios.
Eu vos dei a minha infância. Agora ofereço a minha adolescência. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da vida adulta e saio da juventude para entrar na mais completa vagabundagem.
Peixes: