O BEBEDOURO
- Frederico “Cedê” Silva
doidimaiscorporation@bol.com.br
O bebedouro é um marco da civilização. A História se divide em a.B e d.B - antes e depois do bebedouro. Com efeito, essa invenção não é apenas mais uma daquelas coisas bobas que são descritas simplesmente como uma “caixa que faz algo”. (estou falando daqueles velhos papos de que “o rádio é uma caixa que emite som”, “a televisão é uma caixa que emite imagem e som”, “a caixa de som é uma caixa por onde sai mais som”, “a caixa de leite é uma caixa que guarda leite” “ o caixote é muito parecido com uma caixa”, etc.) Não, não. Com efeito, o bebedouro nunca é descrito como uma
caixa. Muitas vezes as pessoas falam dele como se fosse um
lugar (ainda que nunca tenha sido), e sempre lembrarão, ao fazer essa descrição, duma agradável experiência envolvida em usar o bebedouro. Notem que isto não é comum nas outras invenções: as pessoas não costumam lembrar de seus programas favoritos ao serem perguntadas pela definição de televisão, nem comentarão sobre suas marcas favoritas ao serem interrogadas a respeito de caixas de leite.
Em verdade (essa expressão não é um tanto suspeita? Existe “em mentira”?), todo mundo já teve uma experiência agradável com um bebedouro, ainda que nem sempre traga tal experiência na forma duma história para contar. Matar a sede com um jato de água a uma temperatura agradável é sempre bom, esteja o dia quente ou frio, ensolarado ou chuvoso.
Existem vários tipos de bebedouro. Têm aqueles velhos, encardidos, com baixíssima pressão, que tornam tão ingrata a tarefa de beber que muitas vezes nem são usados - tão próxima deve ficar a boca da fonte de água. O Colégio Marista Dom Silvério está cheio destes. Têm também o oposto: bebedouros novíssimos de alta pressão recém-instalados em shoppings, aeroportos ou prédios residenciais, que mais de uma vez já me surpreenderam com um súbito jato molhado no olho.
Os bebedouros também podem ser classificados por outro critério, que é o dispositivo presente para ativação. Vêm em dois principais tipos: os com um botão redondo localizado logo acima da fonte; e os com uma pequena tampa retangular, mais leve e usável que o primeiro. Existe também a terceira via: falo daqueles mecanismos dos bebedouros de praça, uma alavanquinha que deve ser girada uns 90º. É possível que existam outros tipos, mas não sou familiar com eles.
Em minha infância, na fila formada ao bebedouro logo após o recreio (clássico!), já chamei e fui chamado de algo que só é dito ao redor dum bebedouro:
-Oh, caixa d´água!
Uma garota me disse ontem que, em seu intercâmbio na Bélgica, descobriu que as escolas lá – pasmem!!- não tem bebedouros. Pobres belgas!
Seria lugar-comum demais eu dizer, ao fim deste texto, que fiquei com sede. Seria muito
Superinteressante. Mas que eu fiquei, fiquei.
(Esta sede, felizmente, não é saciável apenas com um bebedouro. Serve uma visita à cozinha, na qual usarei aquilo que gosto de chamar de
frilto.)
Peixes: